Enquanto Bolsonaro embolsa joias, o Brasil paga o salário do seu caçula

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A semana foi profícua em assuntos absurdos. Isso não chega a ser um fato anormal para nós, brasileiros. Não sei se você concorda, mas as notícias pós-bolsonaristas chegam em pencas e são cada vez mais bizarras. Não que isso nos surpreenda, mas é triste constatar que o nível da família que estava no poder é ainda mais rasteiro do que imaginávamos.

Os pontos altos (baixos) da semana, sem dúvida, foram as notícias sobre o episódio das joias em que o ex-presidente Jair Bolsonaro tentou enganbelar os presentes enviados pelos Sauditas – espero que um dia a gente possa saber por que eles enviaram mercadorias tão caras e sem nenhuma ligação com nenhum dos dois países.

Presentes “de Estado” geralmente têm alguma relação com a cultura local. Jóias da Suíça não são feitas com matéria-prima árabe – embora, claro, combinem com o modus-operandi vigente em Brasília.

O primeiro “presente” enviado pela Arábia Saudita, com um relógio e abotoaduras, Bolsonaro conseguiu levar para casa sem pagar impostos. Usou uma desculpa tão esfarrapada para justificar seu ato, que não enganou nem o gado que o segue cegamente. O segundo pacote, que supostamente iria para Michelle Bolsonaro, ainda está no cofre da Receita. Como ela garante que não sabia do assunto, dá a impressão de que o ex-presidente queria ficar com tudo para ele, sem contar para a mulher. Em seu auto-exílio orlandesco, ele não está gostando de ver que Michelle está cada vez mais “independente” – as aspas permitem diversas interpretações, fique à vontade.

Há tantas notícias sobre as joias, todas de revirar o estômago, que nem adianta eu escrever sobre isso. Na hora em que o texto for publicado, Bolsonaro terá falado mais alguma bobagem ou tentado inventar mais uma desculpa.

É por isso que eu gostaria de chamar a atenção para outro fato da semana: a contratação do filho 04 de Bolsonaro por um senador de Santa Catarina. Ele vai trabalhar como assessor parlamentar no cargo de “Auxiliar Parlamentar Pleno”.

Zero Quatro, cujo apelido é bastante adequado por trazer uma grafia que simboliza um zero à esquerda, mostra que aprendeu cedo a desfrutar o talento da família. Assim como seu pai e seus irmãos, é mais um Bolsonaro que passará a viver do dinheiro do contribuinte. O pai foi presidente, mas é o Brasil que é uma mãe para eles.

Queria chamar a atenção para a amplitude semântica da palavra “assessor”. Claro que isso não é por acaso: em Brasília, quanto mais ambíguas forem as palavras, mais gente pode caber na, digamos, “divisão do bolo”. Pelo dicionário, assessor é aquele que “é adjunto a alguém, que exerce uma atividade ou cargo para ajudá-lo em suas funções e, eventualmente, substituí-lo nos impedimentos transitórios”.

Isso quer dizer que o senador Jorge Seif, do sempre nobre PL, contratou Jair Renan para “ajudá-lo em suas funções”. O que, exatamente, Jair Renan sabe fazer. Será que Jorge Seif vai tentar a carreira de jogador de videogame? Ou será influencer?

A questão principal, no entanto, é: qual é a capacidade profissional de Jair Renan para trabalhar no Senado da República como Auxiliar Parlamentar Pleno? Das duas uma: ou Jair Renan tem algum talento que ninguém conhece (nem ele) ou Jorge Seif, ao contratar alguém sem preparo nenhum, joga no lixo os votos do povo de Santa Catarina – e o dinheiro da União junto.

O gabinete do senador informou que a sua função será definida oportunamente. O salário de R$ 9,5 mil pode não ser uma fortuna, mas para alguém que não tem sabe sequer o vai fazer é muito.

Algum dia, o Brasil, o país do absurdo, vai fazer sentido. Infelizmente, ainda vai demorar.