A procuradora da República Fabiana Scheinneder, da força-tarefa da Operação Lava Jato, no Rio, afirmou nesta quinta-feira que “enquanto os medalhistas olímpicos buscam a sua tão sonhada medalha de ouro, dirigentes do Comitê Olímpico guardavam o seu ouro na Suíça”.

A segunda fase da Operação Unfair Play, que investiga a compra de votos para eleger o Rio como sede da Olimpíada de 2016, prendeu o presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman, e seu braço-direito Leonardo Gryner.

“Esse valor das barras de ouro não tem no imposto de renda o correspondente de origem, ou seja, é um valor que está a descoberto, um total de R$ 2 milhões que não tem uma origem, um lucro, não tem um rendimento que justifique essas barras de ouro. Enquanto os medalhistas olímpicos buscam a sua tão sonhada medalha de ouro, dirigentes do Comitê Olímpico guardavam o seu ouro na Suíça”, afirmou.

A Unfair Play chegou a 16 barras de ouro de Nuzman. Segundo a força-tarefa da Lava Jato, no Rio, nos últimos dez dos 22 anos em que ocupou a presidência do COB, Nuzman aumentou seu patrimônio em 457%. Para os investigadores, não há “indicação clara de seus rendimentos, além de manter parte de seu patrimônio oculto na Suíça”.

O Ministério Público Federal afirma que Nuzman declarou a existência de 16 barras de ouro, sendo de 1kg cada uma, que mantinha no exterior, à Receita Federal, por meio de uma retificação em seu imposto de renda em 20 de setembro de 2017, 15 dias após a deflagração da primeira fase da Unfair Play. Na ocasião, Nuzman foi alvo de mandado de busca e apreensão.

A primeira fase da Unfair Play apreendeu uma chave que, segundo a força-tarefa da Lava Jato, “pode corresponder a um cofre na Suíça, considerando que estava guardada junto a cartões de visita de agentes que trabalham com serviço de locação”.

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“Sabendo dessa apreensão, Nuzman tentou adiantar-se para evitar que as barras de ouro possivelmente depositadas no aludido cofre fossem descobertas pelas investigações”, relatou a força-tarefa no pedido de prisão do presidente do COB.

Para os procuradores da Força-Tarefa, Leonardo Cardoso de Freitas, José Augusto Simões Vagos, Eduardo Ribeiro Gomes El Hage, Rodrigo Timóteo da Costa e Silva, Rafael Barretto dos Santos, Sérgio Luiz Pinel Dias, Fabiana Schneider, Marisa Varotto Ferrari e Felipe Almeida Bogado Leite, as investigações avançaram de maneira significativa desde a deflagração da Operação Unfair Play, “tendo sido colhidos elementos que comprovam, de maneira irrefutável, como se deu a operacionalização dos pagamentos e indicam para a atuação de outros atores até então desconhecidos”.

“Carlos Nuzman e Leonardo Gryner foram os agentes responsáveis por unir pontas interessadas, fazer os contatos e azeitar as relações para organizar o mecanismo do repasse de propinas de Sérgio Cabral diretamente a membros africanos do COI (Comitê Olímpico Internacional), o que foi efetivamente feito por meio de Arthur Soares (o “Rei Arthur”)”, afirma a procuradoria.

De acordo com os procuradores, a prisão temporária de Nuzman e Gryner é imprescindível não só como garantia de ordem pública, “como para permitir bloquear o patrimônio, além de impedir que ambos continuem atuando, seja criminosamente, seja na interferência da produção probatória”. Além do pedido de prisão, também foram cumpridos mandatos de busca e apreensão nas casas e empresas de Nuzman e Gryner e a quebra de sigilo telemático.


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