ROMA, 06 JUL (ANSA) – O compositor italiano Ennio Morricone, que faleceu nesta segunda-feira (06) aos 91 anos, é considerado um dos maiores maestros da música internacional, especialmente, por ter dado sons e vida a mais de 500 trilhas sonoras do cinema e da televisão.   

Por ironia, o prêmio mais famoso da indústria cinematográfica, o Oscar, foi o último a reconhecer com uma estatueta toda a sua contribuição. Em 2016, ele conquistou o prêmio que faltava pela trilha sonora do filme “Os Oito Odiados”, mais uma de suas parcerias com o diretor norte-americano Quentin Tarantino.   

Ao receber a estatueta, o italiano não teve dúvidas a quem agradecer: sua esposa, Maria Travia. “Dediquei o Oscar a minha mulher Maria porque ela teve muita paciência para suportar a minha ausência. Fui muito absorvido pela profissão e a distância da família ocorreu nos anos mais intensos da minha carreira. Não era completamente ausente, isso não, mas perdi alguns momentos da vida dos meus filhos. Mas, minha mulher estava lá, sempre esteve e por isso dedico o Oscar a ela”, disse o emocionado maestro.   

O Oscar pela trilha sonora finalmente chegou na sexta indicação.   

A primeira vez que concorreu ao prêmio foi em 1979, com “Cinzas no Paraíso”. Já em 1986, ele concorreu como favorito pelo filme “A Missão”, mas perdeu a disputa. Um ano depois, também não levou a estatueta pelo trabalho em “Os Intocáveis”. Em 1992, concorreu por “Bugsy” e nove anos depois disputou com o filme “Malenà”, do diretor italiano Giuseppe Tornatore.   

Mesmo sem ter conquistado a estatueta, Morricone foi homenageado pelo “conjunto da obra” em 2007 e recebeu um prêmio honorário da Academia. De Tarantino, o músico já ouviu diversos elogios que o colocam no hall dos grandes da história. “O maior presente que eu ganhei fazendo esses filmes foi a amizade do maestro Morricone”, disse o diretor norte-americano que diz ter mais álbuns de música do italiano do que de Mozart ou Beethoven. Nascido em Roma no dia 10 de novembro de 1928, o maestro criou composições para filmes, peças de teatro, televisão e rádio, além de fazer concertos com orquestras ao redor do mundo.   

Morricone estudou no Conservatório Santa Cecília, de Roma, onde se formou no trompete. Apesar de começar a compor trilhas sonoras ainda em 1946, foi na década de 1950 que sua carreira começou a decolar, levando para o mundo da sétima arte em 1961, no filme “Il Federale”, de Luciano Salce. A partir de então, centenas de grandes películas contaram com a destreza e as músicas do compositor. Entre suas maiores obras, além daquelas que o levaram às indicações ao Oscar, estão os filmes “Por um Punhado de Dólares” (1964), “Cinema Paradiso” (1988) e outro trabalho com Tarantino, na trilha sonora de”Bastardos Inglórios” (2009) – além de criar músicas para os filmes “Django Livre” (2012) e “Kill Bill” (2003).   

Morricone também já fez apresentações para o papa Francisco. Ao relatar sua grande capacidade de trabalhar com o cinema, o diretor explicou que gosta de ter liberdade.   

“Há diretores que pedem coisas razoáveis e, neste caso, eu os ouço. Mas, depois, coloco minha assinatura, a minha atenção criativa. Não é passiva essa aceitação dos pedidos dos diretores”, destacou o italiano afirmando que “Tarantino não me pediu muito para o filme e eu me senti completamente livre”. “Quando te dizem isso [de ser livre], devo assumir uma responsabilidade ainda maior, mas ao fim, as melhores coisas que fiz vieram mesmo destes casos, quando me deram carta branca”, ressaltou. Apesar do Oscar ter chegado apenas aos 87 anos, Morricone teve uma carreira premiada pelos maiores eventos mundiais do cinema.   

Ao todo, ele conquistou quatro Globos de Ouro, seis Baftas, 10 David di Donatellos, três Grammys, 11 prêmios “Nastri d’argento” e um Leão de Ouro por sua carreira. Na carreira fonográfica, ele acumula 27 discos de ouro, sete de platina e ainda viu a trilha sonora do filme “Três Homens em Conflito – O Bom, o Mau e o Feio”, de 1966, entrar no Grammy Hall of Fame em 2009. Ao todo, vendeu mais de 70 milhões de álbuns.   

Em fevereiro de 2016, Morricone foi agraciado com uma estrela na Calçada da Fama de Los Angeles. Na Itália, recebeu quatro comendas entre 1995 e 2017 por sua importância para a cultura do país. As homenagens do tipo também foram feitas na França em 2009 (Cavalheiro da Ordem Nacional da Legião de Honra) e na Espanha em 5 de junho deste ano (Prêmio Princesa das Astúrias pela Arte). (ANSA)