A chanceler alemã, Angela Merkel, começou nesta quarta-feira (18) as negociações para tentar formar seu quarto governo, uma tarefa que se anuncia particularmente árdua, ainda que seu partido tenha manifestado confiança após as primeiras conversas.

Enfraquecida por resultados decepcionantes nas eleições de 24 de setembro, a chanceler não tem outra escolha a não ser tentar se entender com os liberais do FDP e com os Verdes para formar um inédito arranjo de governo.

Seu partido, a União Democrata-Cristã (CDU), e seu aliado bávaro, a União Social-Cristã (CSU), abriram os trabalhos com o Partido Democrático Liberal (FDP), antes do encontro com os ecologistas. Na sexta-feira (20), todos se reúnem na mesma mesa.

Referindo-se a uma “primeira troca muito construtiva” com a sigla liberal, durante a qual “falamos de temas importantes”, o secretário-geral da CDU, Peter Tauber, garante ter tido “uma boa impressão”.

O aliado bávaro, que se ajustou à direita, mostrou-se ainda mais animado, avaliando que “um grande passo” pode ser alcançado antes do fim de semana, declarou o secretário-geral da CSU, Andreas Scheuer.

Ele admitiu, porém, que as negociações com os Verdes – no lado oposto do espectro político – serão “uma parte bem mais difícil”.

A FDP lembrou que essa eventual aliança é “antinatural”.

“É como numa busca: você sabe o que procura, mas não sabe o que vai encontrar”, filosofou sua secretária-geral, Nicola Beer.

– Tempestades –

Antes de tudo, essas primeiras rodadas têm como objetivo “sentir o clima” e estabelecer prioridades. As negociações sobre o conteúdo devem ir, na verdade, até o fim do ano pelo menos.

Na ponta do lápis, apenas essa aliança improvável é possível para formar uma coalizão majoritária para a Câmara dos Deputados, após a decisão dos social-democratas de debandarem para a oposição.

Desde as legislativas, vencidas com o pior resultado para a sigla desde 1949, Merkel parece enfrentar uma equação impossível de resolver.

Os temas de atrito entre os diferentes partidos são numerosos. Da imigração à reforma da União Europeia (UE), passando pela transição energética e pela discussão sobre os impostos, nenhum ponto (ou quase nenhum) parece unir esses atores.

Para agravar a situação, no domingo (15), o partido de Merkel perdeu a eleição regional na Baixa Saxônia, a qual parecia ganha há menos de dois meses. A derrota é um balde de água fria para CDU-CSU, que buscam reconquistar os votos perdidos para a Alternativa para a Alemanha (AfD), uma legenda de extrema direita que estreou no Bundestag.

Apesar de tudo, a chanceler garantiu, na segunda-feira, não estar em posição de “fraqueza”. Também reconheceu que as negociações preliminares devem durar “semanas”. Somente então, com as articulações fechadas, deve-se começar a compor o governo e a resolver detalhes de sua plataforma.

– ‘Início do fim’ –

Na melhor das hipóteses, portanto, a Alemanha terá um novo governo por volta do Natal. Na pior, em caso de fracasso dessas negociações, eleições antecipadas serão convocadas. Esta seria a primeira vez para um país onde a cultura do acordo político reina desde 1945.

Esta semana, o líder dos liberais, Christian Lindner, reivindicou o cobiçado Ministério das Finanças, após a saída do conservador Wolfgang Schäuble.

Para a imprensa alemã, a dificuldade de formar um governo e o enfraquecimento de Angela Merkel nas próprias fileiras prenunciam o início do fim após 12 anos no poder.

“É um fenômeno estranho que a Alemanha vive. Negocia-se uma coalizão que nenhum dos partidos envolvidos quer realmente e no momento em que a influência da chefe de governo esmaece, e seu poder desmorona”, avalia a influente revista “Der Spiegel” em sua edição on-line.

A oposição se prepara.

“Merkel foi duramente atingida (…) é um clima de fim de uma era”, mira Carsten Schneider, uma liderança social-democrata.