TERROR Durante três horas e meia, William da Silva ameaçou 39 reféns e parou o País. Foi atingido por seis tiros de um sniper posicionado em um carro de bombeiro a 80 metros de distância (Crédito:Divulgação)

Eram 5h26 quando o jovem William Augusto da Silva, de 20 anos, colocou um lenço no rosto e anunciou o sequestro do ônibus 2520 da Viação Galo Branco, que liga Alcântara, em São Gonçalo, ao Estácio, no centro do Rio de Janeiro. Armado com um revólver, que depois se constatou ser uma réplica, William ordenou que o motorista cruzasse o veículo no meio de uma das pistas da ponte Rio-Niterói em plena hora do rush e amarrou as mãos dos 39 reféns com lacres plásticos. Em seguida, passou a exibir uma faca de caça e a pendurar no teto potes de garrafa PET abarrotados de gasolina. Pegou um isqueiro de um dos passageiros e ameaçou tocar fogo no ônibus. Repetia que era policial e sofria de depressão. Dizia também que não iria assaltar e estava fazendo aquilo para entrar na história. Após três horas e meia promovendo o terror, terminou fuzilado com seis tiros de fuzil AR-10 disparados por um atirador de elite (sniper) do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Dois pegaram no tórax, dois nas pernas e dois nos braços.

A morte de William foi comemorada efusivamente pelo governador Wilson Witzel, que desceu de um helicóptero aos pulos, vibrando com os punhos cerrados. Apesar de a execução ter sido oportuna – uma vez que William poderia ferir ou matar alguns dos passageiros — a reação do governador revelou desumanidade. “O ideal é que todos saíssem com vida, mas nós tivemos que tomar a decisão de salvar os reféns”, justificou corretamente Witzel no local. “O que nós assistimos foi um trabalho muito técnico da Polícia Militar. Todo o tempo fiquei monitorando para fazer o meu trabalho como governador. A Polícia Militar, usando os atiradores de elite, escolheu a melhor oportunidade para salvar os reféns”. Witzel tem sido criticado por sua política de segurança que promove o uso indiscriminado de snipers como solução de combate ao crime e leva à morte de cidadãos inocentes. Não foi o caso dessa vez. De novo: a ação do Bope foi acertada. Mas, como autoridade máxima do estado, Witzel podia ter evitado a perda de sobriedade. O momento exige recato.

Surto psicótico

Segundo relatam seus familiares, William sempre foi uma pessoa introvertida e do tipo calado, mas até o ano passado não manifestava qualquer distúrbio psiquiátrico. Tampouco tinha passagem pela polícia ou histórico de violência. Era considerado um bom filho. Em janeiro ele começou a demonstrar comportamentos estranhos e, num churrasco de fim de semana, teve um surto psicótico. Dizia que estava sofrendo e ouvia vozes. A partir desse incidente passou a beber muito, mas não recebeu qualquer atendimento médico. Antes de sequestrar o ônibus, William enviou uma mensagem para os pais dizendo que iria acabar com a própria vida. A família do sequestrador pediu desculpas pelo seu crime. “Pedir desculpas é o que minha família pode fazer agora”, disse o primo de William, Sandro Silva. “Ele tinha que pagar pelo que fez hoje, e, graças a Deus, quem está chorando é só minha família”, disse Silva com raro discernimento. Para a polícia, o sequestro foi planejado com bastante antecedência.

“O ideal é que todos saíssem com vida, mas nós tivemos que tomar a decisão de salvar os reféns. O que nós assistimos foi um trabalho muito técnico da Polícia Militar” Wilson Witzel, governador do Rio

O caso da linha 2520 se assemelha ao do ônibus 174, ocorrido em 12 de junho de 2000, no bairro do Jardim Botânico. Na ocasião, Sandro do Nascimento, sobrevivente da chacina da Candelária, portando uma arma de verdade, tentou roubar o ônibus que levava onze passageiros. Com a chegada da polícia, perdeu o controle da situação e passou a ameaçar os reféns. Após quatro horas de negociação, Sandro saiu do ônibus usando como escudo a professora Geisa Firmo Gonçalves, de 20 anos. Um atirador do Bope disparou contra o sequestrador, mas atingiu Geisa, que não resistiu aos ferimentos. Sandro foi capturado e morreria em seguida asfixiado na viatura policial.

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Dessa vez, felizmente, não houve morte de inocentes e nem violência desmedida contra o criminoso. Mas, em se tratando do governo Witzel, sempre fica a sensação de que as coisas poderiam ter sido feitas de uma melhor forma.

 


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