O custo da energia da usina nuclear de Angra 3 é o mais alto entre todas as fontes disponíveis no País, segundo estudo do Instituto Escolhas em parceria com a PSR, consultoria especializada em energia. Considerando critérios objetivos como valor da obra, custo fixo de operação, subsídios e prêmio ambiental, a energia a ser produzida por Angra 3 é mais cara que a de termoelétricas a gás e de empreendimentos de energia renovável. Caso o governo optasse por desistir de concluir Angra 3, e até desmontasse o que já foi feito, e substituísse a usina por parques solares no Sudeste ainda assim a economia seria de R$ 12,5 bilhões em um período de 35 anos.

A conclusão de Angra 3 foi anunciada como prioridade pelo futuro ministro de Minas e Energia, almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior. A comparação de Angra 3 com usinas solares no Sudeste foi realizada pelo pressuposto de que ambos os empreendimentos gerariam energia na base do sistema elétrico, não emitiriam gases de efeito estufa e estariam próximas de grandes centros de consumo na mesma região. O estudo considerou ainda o fato de que a energia solar recebe subsídios, não pode ser produzida à noite e demanda substituição por outras fontes.

Nesse cenário, o preço da energia solar para o consumidor seria de R$ 328 por megawatt-hora (MWh), maior que o preço obtido em leilões realizados pelo governo, de R$ 150 por MWh, mas, ainda assim, inferior ao de Angra 3. Segundo o estudo, o custo real da energia da usina nuclear é de R$ 528 (Mwh).

O valor é maior do que a tarifa estabelecida pelo governo há dois meses, de R$ 480 por MWh, que estaria em linha com os valores praticados por usinas nucleares no exterior e uma pré-condição para a retomada das obras, paralisadas em 2015 por denúncias de corrupção.

“A energia nuclear é a mais cara”, disse o fundador e diretor executivo do Instituto Escolhas, Sergio Leitão. Segundo Leitão, a economia com o fim de Angra 3 seria de R$ 12,5 bilhões mesmo levando em conta pagamento de rescisões contratuais, multas, compensações socioambientais e liquidação antecipada do financiamento.

“Sob o ponto de vista de geração de energia, (Angra 3) não se justifica”, disse Leitão. “Se a reativação dessa usina tem a ver com a manutenção do programa nuclear brasileiro e das estatais ligadas à área militar, isso deve ser explicitado de outra forma, como política de governo.”

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A Eletronuclear, subsidiária da Eletrobrás, informou que o preço da energia da usina teve como base estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Segundo a empresa, o valor restabelece a viabilidade da obra e é compatível com projetos no exterior. A Eletronuclear destacou que as fontes renováveis são intermitentes e levam ao acionamento de termoelétricas. E informou que o estudo desconsidera ganhos de processo de mineração, beneficiamento e enriquecimento do urânio.

Projeto do período militar, Angra 3 começou a ser construída em 1984, mas as obras foram paralisadas em 1986. O projeto foi retomado por Lula em 2009. O custo estimado para o término do projeto era de R$ 8,3 bilhões, para conclusão em 2014.

Investigações da Polícia Federal revelaram desvios na obra e resultaram na prisão de executivos da Eletronuclear. A conclusão da obra deve demandar R$ 15,5 bilhões, totalizando R$ 23,5 bilhões. A usina terá potência de 1.405 MW. A hidrelétrica de Teles Pires tem 1.820 MW e custou R$ 3,9 bilhões.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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