O diretor de Fiscalização do Banco Central, Anthero Meirelles, disse nesta quinta-feira, 7, que o endividamento das companhias brasileiras que atuam fora do sistema financeiro está bem adequado. “A dívida das empresas não financeiras não nos parece um problema significativo”, afirmou durante entrevista coletiva.

De qualquer forma, houve aumento do total da dívida. Em slide da apresentação do diretor, o conjunto de todas essas dívidas em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) passou de cerca de 44% no fim de 2014 para pouco abaixo de 50% em junho do mesmo ano e para acima de 50% no encerramento de 2015.

Em dezembro do ano passado, a principal fatia da dívida das companhias era em moeda local (29,1% ante 28,8% de seis meses antes e de 27,3% de um ano antes). Entre as empresas exportadoras, a dívida em moeda estrangeira passou de 5,4% em dezembro de 2014 para 6,6% em junho do ano passado e 7,8% em dezembro de 2015. No caso de empresas não exportadoras, mas que têm dívidas em moeda estrangeira e hedge local, as taxas passaram nesses mesmos períodos de 2,1% para 2,6% e depois para 3,3%.

Testes de estresse

Meirelles salientou que os cenários traçados pela instituição para os testes de estresse e de sensibilidade para o futuro são sempre conservadores e que não costumam se efetivar, na prática. Ao final de 2015, no entanto, algumas das situações limites colocadas no Relatório de Estabilidade Financeira passado, de outubro, acabaram quase sendo alcançadas. Ele não citou quais, no entanto.

O teste de estresse macroeconômico do REF anterior levava em conta um IBC-Br de 4,6% em dezembro de 2016, juros a 14,2%, câmbio a R$ 4,55, inflação a 6,5%, desemprego 10,8%, prêmio de risco em 304 pontos e juros americanos em 5,4%. O cenário base, que levava em consideração o Relatório de Mercado Focus, apontava para um recuo do IBC-Br de 0,2% no período, juros a 12%, câmbio a R$ 3,59, inflação em 5,4%, além de desemprego em 6,9%, prêmio de risco em 304 pontos e juro americano em 4,0%.

“Alguns desses cenários se concretizaram, outros não”, afirmou Anthero. “Nossos cenários sempre simularam situações mais drásticas do que aquelas que acabaram acontecendo, mas evidentemente o cenário se deteriorou muito”, continuou. O diretor lembrou também que quando o teste de estresse é aplicado sobre uma instituição, o que é considerado é que ela não vai se “mover”. “Mas, na prática, não ocorre isso e a instituição reage”, considerou.

Isso mostra, de acordo com ele, que, embora a situação tenha se deteriorado, a situação das instituições não se deteriorou porque tomaram medidas para recompor seus “buffers” (amortecedores) para aquele cenário. “Nossos cenários de estresse não são de previsão, são uma simulação”, enfatizou.