Coluna: Ricardo Kertzman

Ricardo Kertzman é blogueiro, colunista e contestador por natureza. Reza a lenda que, ao nascer, antes mesmo de chorar, reclamou do hospital, brigou com o obstetra e discutiu com a mãe. Seu temperamento impulsivo só não é maior que seu imenso bom coração.

Encoxe, apalpe os seios, agrida. Só não poste no grupo de WhatsApp

Encoxe, apalpe os seios, agrida. Só não poste no grupo de WhatsApp

Arthur do Val, o deputado adolescentão boboca, tem de apanhar dia e noite, 24/7, sem folga para almoços, fins de semana e feriados? Sim. Repetindo: sim! Mais um pouco: sim e sim.

As coisas que pensou e disse, ainda que de forma privada, são repugnantes, cafajestes, etc. e tal? São. Só um selvagem cretino, para sentir desejo sexual numa situação daquelas.

Sob a ótica da cínica e oportunista “Quebra de Decoro Parlamentar”, o Mamãe Falei deveria ser cassado? Bem, em um país justo, ético, civilizado e coerente, sim, deveria.

Agora, diante da podridão que habita e orbita a política nacional, sobretudo diante de casos recentes ocorridos dentro da própria Alesp, Arthur deveria ser cassado? Não, não e não!

Em 2020, o deputado estadual Fernando Cury (Cidadania), em plenário, diante de todos, ao vivo e em cores, encoxou e apalpou – criminosamente!! – os seios de Isa Penna (PSOL).

Cury foi cassado? Claro que não. Ao contrário! Ele é hoje membro do Conselho Estadual dos Direitos das Crianças e Adolescentes. Graças a Deus, minha filha não mora em SP.

Uma barbaridade destas me lembra outra; a frase ordinária de Paulo Maluf (“…estupra, mas não mata”). Só que adaptada para: encoxa, apalpa, mas não posta no grupo.

Ano passado, o próprio Do Val foi agredido fisicamente, dentro da Alesp, pelo deputado bolsonarista do Cidadania, Gil Diniz. Resultado? Diniz foi aplaudido e nada lhe aconteceu.

Políticos, com raríssimas exceções, além de corruptos e fisiologistas, são hipócritas, oportunistas e populistas. E tremendamente corporativistas. Verdadeiros espíritos de porco!

E é justamente por isso que Mamãe Falei poderá ser cassado. Fosse da turma do oba-oba; do toma lá, dá cá; dos auxílios-paletó, etc., não seria nem sequer repreendido.

Fosse aliado dos governos estadual e federal; votasse a favor de benefícios e privilégios indecorosos; gastasse os tubos em verba pública, seria um verdadeiro ‘mito’.

Arthur roubou, usou o cargo em benefício próprio, torrou milhões da nossa grana consigo mesmo e o seus, agrediu fisicamente alguém ou passou a mão em alguma deputada? Não.

Outros fizeram e fazem tudo isso, diariamente, por mais até do que um único mandato parlamentar? Opa! Vários. Foram cassados? Que piada, né? Obviamente, não. São heróis.

Já escrevi a respeito e repito: o azar do “taradão” era ser do MBL (Movimento Brasil Livre), ser antibolsonarista, antilulpetista e combater essa corja toda. Do contrário, estaria de boas.

Fosse de esquerda, nem mesmo a psolista apalpada, resmungaria sobre o áudio cafajeste. Fosse bolsominion, e a turba o defenderia: ‘parem de mimimi, de politicamente correto’.

Do Val, diante de tudo o que acontece por aqui – e descrito acima -, não pode ser cassado, sob claro revanchismo do tal “sistema” e desrespeito à vontade popular, que o elegeu.

Ele deveria – ou não – ser cassado pelos eleitores. Preferencialmente pelas eleitoras, que deveriam mostrar que, em SP, as mulheres realmente não são fáceis; ainda que pobres.