Durante a semana, os partidos que compõem o espectro moderado da política e suas principais autoridades tiveram diversos encontros. Transformados mais em desencontros dada a falta de definições, várias dessas reuniões chegaram a conclusões semelhantes: a estagnação da candidatura de Geraldo Alckmin pelo PSDB dificulta muito que a união se dê em torno dele. Três alternativas se colocam a partir dessa constatação. Uns acham que se deve correr mesmo assim o risco de apostar em Alckmin. Outros ainda discutem a possibilidade de trocá-lo como opção tucana pelo candidato a governador de São Paulo, João Doria. E outros começam a ensaiar uma guinada à esquerda, unindo-se à candidatura de Ciro Gomes, do PDT.

Na quarta-feira 4 à noite, Geraldo Alckmin reuniu-se em um jantar na residência oficial do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com os partidos que compõem o bloco de centro. Capitaneados pelo DEM de Maia, o bloco reúne PP, PR, PRB e Solidariedade. Unidos, são uma força importante para engordar tempo de TV, compor palanques e garantir uma base de apoio sólida após uma eventual vitória nas eleições. Foram mobilizados por Maia inicialmente em torno da sua pretensa candidatura, que, já se sabe, não irá até outubro. Na verdade, o que interessa a Rodrigo Maia é manter o bloco sólido para alçá-lo no ano que vem a um novo mandato como presidente da Câmara. Nesse sentido, se todos os partidos unirem-se em torno de um mesmo nome para presidente da República, maior será o peso caso o nome escolhido vença as eleições.

Débora Secco

Alckmin já chegou, porém, ao jantar sabendo que nada seria logo definido ali em seu favor. Esperava, porém, convencer o grupo com seus argumentos. Ele acredita na possibilidade de uma recuperação na curta campanha eleitoral deste ano, de pouco mais de 30 dias, a partir da aparição na TV. “Na TV, nós ficamos como Regina Duarte ou Débora Secco”, arriscou dizer, comparando-se às atrizes. Alckmin avalia que, antes da campanha de fato, os candidatos são pouco conhecidos. Chegou a contar uma história, na qual dizia ter sido confundido por uma senhora num sinal de trânsito com Paulo Maluf, embora já governasse São Paulo por dois mandatos. As histórias de Alckmin, no entanto, não seduziram muito o grupo. “Com toda a franqueza, dissemos que ele deve compreender que a sua chance eleitoral hoje não parece viável”, disse um dos participantes da reunião.

Especialmente no DEM e no PP avalia-se que as chances do candidato tucano são reduzidas. Essa é a posição de alguns dos principais líderes dos dois partidos, como o próprio Maia, o presidente do DEM, ACM Neto, e o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Contrários a essa posição há apoiadores de Alckmin, como os deputados Mendonça Filho (DEM-PE) e Pauderney Avelino (DEM-AM). Assim, na busca de uma solução unificadora, voltou-se a articular a possibilidade de uma troca na candidatura por Doria. Essa articulação foi feita novamente, nos últimos dias, pelo presidente Michel Temer e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em favor de Doria, o regresso da ideia da renovação política, do nome novo, com um estilo igualmente novo de governar.

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Troca arriscada

O DEM, no entanto, possui pesquisas que mostram que mesmo a troca neste momento seria arriscada. Os dados mostram um desgaste do PSDB. Na contramão do discurso batido especialmente pelo PT, de que os tucanos são preservados nas investigações da Lava Jato, o que a pesquisa do DEM demonstra é que, pelo menos do ponto de vista eleitoral, o PSDB talvez seja o partido mais chamuscado: saiu de uma posição de principal contraponto eleitoral dos petistas para um ostracismo bem mais insignificante aos olhos do eleitorado. Nomes fortes do partido foram colocados totalmente para escanteio pelas denúncias, especialmente os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP). E isso respingou no partido como um todo. Dificultando a troca, há também o fato de que Alckmin tem comando sobre o PSDB, ao contrário de Doria. O próprio candidato ao governo de São Paulo comentou esta semana que uma eventual troca só poderia acontecer se houvesse total consenso em torno disso, o que não parece provável. “Eu teria que ser ungido”, argumentou.

DIVISÃO Partidos do chamado “centrão” também estão rachados (Crédito:Divulgação)

Assim, cresceu no final da semana entre os líderes do DEM e do PP, que são os principais partidos do bloco, uma tendência em favor do nome do PDT, Ciro Gomes. De acordo com uma fonte do DEM, nenhum anúncio oficial deverá acontecer nos próximos dias, mas somente no fim de julho, depois do dia 20 ou 30. A favor de Ciro há outro dado da pesquisa feita pelo Democratas. Ela mostra que há forte viabilidade de crescimento de um nome do PT apoiado da cadeia pelo ex-presidente Lula. A troca de Lula por Fernando Haddad, que parece a solução mais provável, poderia colocá-lo fortemente no páreo, se o eleitor tiver clareza de que Haddad é o nome de Lula na disputa. Assim, ACM Neto, Haddad e Ciro Nogueira defendem que o apoio a Ciro pode ser a melhor chance de neutralizar esse crescimento. Um Ciro viável poderia tirar de Haddad boa parte dos votos de esquerda. Ainda nesse raciocínio, os três argumentam que ele poderia transitar entre a esquerda e a direita, diminuindo a atual polarização que se instalou no País. A partir daí, o bloco se uniria em torno da reeleição de Maia e na construção de um apoio com peso considerável para influir e ter espaço grande no governo. No Congresso, atuariam para emplacar a agenda liberal, votando, por exemplo, a reforma da Previdência.

Mas é claro que também há entraves para essa solução. Jogam contra a “saída Ciro” o temperamento imprevisível do candidato e o fato de ser considerado um aliado pouco confiável. Mesmo os líderes do DEM e do PP avaliam que seria difícil conseguir manter a unidade do bloco em torno dele. O maior obstáculo hoje é o PR. Ciro Gomes e o presidente do PR, Valdemar Costa Neto, não se toleram. “A visão pragmática da política pode até levar a uma conciliação dos dois, mas é difícil”, avalia um parlamentar do DEM.

Num cenário de indefinições, o MDB já topa seguir com a candidatura de Henrique Meirelles até o fim

Resta na consolidação do centro a posição do MDB, partido de Michel Temer. O presidente tem participado das conversas em torno da unificação do grupo moderado. Mas hoje no MDB, diante também das incertezas em torno de Alckmin, não há uma definição. Da parte de Temer e seus aliados, há uma mágoa não resolvida pelo fato de o candidato do PSDB ter optado por se afastar e não defender o governo. Diante do quadro incerto, o MDB não descarta seguir mesmo com candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, ainda que ele patine em míseros 1% nas pesquisas. “Em outros momentos, o MDB optou por não ter candidato para fazer as melhores composições regionais. Mas havia clareza sobre quem tinha chances. Agora, não há essa clareza. Nesse sentido, pode haver vantagem em ter um nome próprio na disputa”, avalia um assessor de Meirelles.

Carona

Tal situação verificou-se recentemente numa viagem de Meirelles ao Mato Grosso do Sul. Lá, o MDB é forte e o ex-governador André Puccinelli tem chances de eleição. Mas Puccinelli teve problemas com a Justiça. Chegou a ser preso numa operação da Polícia Federal batizada de Lama Asfáltica. Avaliou-se na viagem que a presença de Meirelles, contra quem não há qualquer acusação de corrupção, atenua esse passado. A outra vantagem de Meirelles é bancar inteiramente a sua campanha. “Ele vem, monta o palanque, e os candidatos regionais, com pouco dinheiro, pegam carona”, explica o assessor.

Até pela premência do tempo, a disputa eleitoral brasileira terá de se definir até o final de julho, quando começarão a acontecer as convenções partidárias. Nunca, porém, houve tanta incerteza sobre como vai se definir o quadro eleitoral. Assim, entre encontros e desencontros, com a maioria da população ainda sem candidato, segue aos trancos e barrancos a eleição de 2018.


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