Contatos secretos e reuniões de trabalho prévias de representantes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, possibilitaram o primeiro encontro entre os presidentes na Assembleia-Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), na última terça-feira, dia 23. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
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As interações tentaram ser mantidas em sigilo pelas autoridades do alto escalão do governo do Brasil e dos Estados Unidos e os emissários agiram com o aval dos dois presidentes para manter um canal aberto e indicar uma “boa disposição” de ambas as partes para um encontro nos bastidores do evento.
Sendo assim, a reportagem afirma que o encontro não foi um acaso, como os dois governos fizeram o público acreditar. No entanto, até o último minuto existia uma incerteza sobre se o encontro aconteceria ou não. Porém, a intenção de que ele acontecesse, já existia.
Quatro autoridades políticas estavam envolvidas na operação diplomática. O vice-presidente Geraldo Alckmin, ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, se reuniu, em 11 de setembro, com o embaixador Jamieson Greer, representante comercial dos EUA.
Já o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, recebeu, em 15 de setembro, Richard Grenell, enviado especial para missões especiais.
Brasil e EUA não divulgaram nenhum documento sobre os encontros, nem notas oficiais. Não foram feitos registros públicos em agendas das autoridades e nem fotos. Os governos tiveram cuidado para evitar que agentes contrários ao estreitamento de laços prejudicassem a operação.
Procurados pela reportagem do jornal, o Itamaraty não comentou o caso e o Ministério da Indústria não quis comentar. Representante Comercial dos Estados Unidos e Casa Branca não responderam. As reuniões foram narradas por autoridades de governo sob condição de anonimato e embasadas por documentos.
As conversas entre os dois países estavam sendo sabotadas por bolsonaristas liderados nos EUA pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, juntamente com representantes do movimento MAGA (Make America Great Again). Por conta disso, as autoridades tiveram que operar nos bastidores.
Horas antes do encontro entre Lula e Trump, eles dividiram a mesma sala reservada a chefes de Estado e os cerimoniais não tinham tomado qualquer medida para evitar que isso acontecesse. Muito pelo contrário. Isso é o que diz um diplomata ouvido pelo Estadão.
O presidente dos Estados Unidos chegou mais cedo e viu o discurso do presidente do Brasil pela televisão. Ele deixou que o fotografassem enquanto o petista falava em defesa da soberania nacional.
Além disso, Lula manteve a rota que o levava à sala para “buscar suas papeletas com anotações”, em vez de sair diretamente para o plenário do Debate Geral. Nenhum deles criou nenhum obstáculo para que se cruzassem na sala.
Os contatos entre os governos passaram a ser mais intensos depois da condenação de Bolsonaro, pois esse foi o indicativo de que a “maré estava virando”.
Quando falou sobre o assunto, Trump lamentou a condenação, mas não fez ataques ao Brasil, ao presidente Lula ou ao STF (Supremo Tribunal Federal). Lula, por sua vez, falava que, se encontrasse Trump nos corredores da ONU, iria cumprimentá-lo.
Além disso, empresários, parlamentares e associações do setor privado fizeram missões nos EUA para participar de debates e fazer lobby no país. Houve ainda contatos reservado de Joesley Batista, da JBS, empresa que tem negócios nos EUA e foi doadora de campanha do republicano. Ele falou com Trump na Casa Branca. Questionado pela reportagem, o empresário também não se manifestou sobre o assunto.
A situação teria se complicado quando o ministro Alexandre de Moraes determinou a prisão domiciliar de Bolsonaro, com uso de tornozeleira. A visão do governo dos EUA era a de que ele tinha “desafiado” Trump. No entanto, o governo do Brasil costurou junto a ministros do STF para que eles não reagissem ao cancelamento de vistos.
Então, os contatos ficaram congelados por conta da irritação do governo dos Estados Unidos. E Trump confirmou o tarifaço. Porém, desde o início da crise diplomática, Mauro Vieira autorizou um de seus assessores de confiança a viajar quatro vezes para a capital dos EUA. Ele manteve reuniões com lobistas, setor privado, acadêmicos e meios de comunicação.
O embaixador Mauricio Lyrio, secretário de Clima e Meio Ambiente do Itamaraty e descrito por Lula como o “negociador de todas as causas difíceis”, viajou com a delegação em missão exploratória em março.
A embaixadora Maria Luiza Viotti, jantou ao lado de embaixadores sul-americanos com Michael Jensen, ex-oficial da Força Aérea, indicado por Trump diretor de Assuntos das Américas (Hemisfério Ocidental) no Conselho de Segurança Nacional. O encontro ocorreu há cerca de 15 dias.
Desde 2024, ela tinha se aproximado de Susie Wiles, chefe de gabinete de Trump. Na transição do antigo governo para o atual, estabeleceu um canal com Mike Waltz, ex-conselheiro de Segurança Nacional e agora embaixador representante dos EUA na ONU. Também vinha mantendo conversas com o vice-secretário de Estado, Christopher Landau.