A equipe de Alexei Navalny disse, nesta quinta-feira (17), que restos da substância neurotóxica com que o oponente russo foi envenenado foram encontrados em uma garrafa de plástico recuperada de um quarto de hotel onde ele se hospedou.

O principal adversário político do presidente Vladimir Putin, de 44 anos, sentiu-se muito mal em 20 de agosto, a bordo de um avião, quando voltava da cidade siberiana de Tomsk para Moscou.

No Instagram, sua equipe afirmou que traços de uma substância neurotóxica do tipo Novichok foram detectados em uma “garrafa de água de plástico normal” recuperada do quarto de hotel onde Navalny se hospedou em Tomsk.

Segundo seus colaboradores, esses restos foram identificados “duas semanas depois” por um laboratório alemão.

Junto com a mensagem, é exibido um vídeo em que membros da equipe Navalny inspecionam um quarto de hotel e coletam possíveis pistas, antes que a polícia possa visitar o local.

O vídeo foi filmado logo após seus colaboradores serem informados de que o oponente se sentia mal.

“Como estava totalmente claro que Navalny não estava ‘um pouco doente’ (…) decidimos recolher tudo o que pudesse ser útil e entregar aos médicos na Alemanha”, explica o entorno do ativista.

“Também estava claro que não haveria investigação na Rússia”, continua.

“Agora, vemos que (o envenenamento) aconteceu antes de ele sair do quarto para ir para o hotel”, acrescenta.

Durante sua estada em Tomsk, Navalny ficou três dias no hotel quatro estrelas Xander, cujo restaurante também visitou, segundo a polícia.

Internado primeiro em Omsk, outra cidade da Sibéria, Navalny foi transferido 48 horas após seu envenenamento para o hospital La Charité em Berlim. Ele saiu do coma na semana passada e tem se recuperado progressivamente desde então.

Navalny divulgou uma primeira mensagem e uma foto sua na terça-feira, no leito do hospital onde está internado na Alemanha. Disse estar feliz por poder respirar sem a ajuda de aparelhos.

Um laboratório militar alemão concluiu em 3 de setembro que ele foi envenenado por uma substância da família Novichok, criada na época da União Soviética para fins militares. Moscou nega a hipótese de envenenamento.

Outros laboratórios, franceses e suecos, confirmaram as conclusões alemãs.

Um colaborador do opositor, Liubov Sobol, tuitou que era “importante entender que havia traços de Novichok na garrafa, mas isso não significa exatamente que ele foi envenenado por esta garrafa de água”. A vítima pode ter contaminado o recipiente com o veneno.

Proekt.media, um site de informações russo, publicou nesta quinta uma investigação detalhada citando parentes do opositor e afirmando que o veneno não era mais detectável em seu corpo quando ele foi transferido para Berlim.

De acordo com o site, Navalny lembra exatamente quando bebeu esta garrafa de Svyatoy Istotchnik (“Fonte Santa”), uma marca russa muito popular.

Um dos inventores do agente tóxico, Vladimir Uglev, disse ao Proekt.media que qualquer ingestão desse veneno provavelmente seria fatal.

Este caso tornou ainda mais tensas as relações entre a Rússia e o Ocidente. Nesta quinta, p Parlamento Europeu pediu a adoção de sanções europeias contra a Rússia pelo envenenamento e acusou Moscou de tentar assassiná-lo para silenciar os dissidentes.

Os eurodeputados afirmaram que o envenenamento de Navalny faz parte de um “esforço sistêmico” do governo do presidente Vladimir Putin para reprimir a oposição.

“Os assassinatos e envenenamentos políticos na Rússia são instrumentos do regime que visam deliberadamente a oposição”, disse o Parlamento Europeu em uma resolução não vinculativa, acrescentando que o Novichok está “à disposição apenas das estruturas militares e dos serviços secretos russos”.

A resolução exorta a UE “a elaborar o mais rapidamente possível uma lista de medidas restritivas ambiciosas em relação à Rússia e a reforçar as sanções existentes” adotadas após a anexação da Crimeia e o envenenamento do ex-agente duplo Serguei Skripal em 2018.

Neste contexto, a Rússia alertou nesta quinta-feira a UE contra sanções. “Qualquer tentativa de criar sanções em nome de Navalny seria claramente antirussa”, disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Sakharova.

“O verdadeiro objetivo da campanha da UE é garantir a continuação da política destrutiva adotada pela UE contra o nosso país”, acrescentou.