Um grupo de organizações e empresas privadas com sede ou representação no Rio de Janeiro decidiu se unir para criar perspectivas e gerar oportunidades em massa a jovens de comunidades da periferia da cidade, por meio do que classificam de empoderamento digital. A meta é que, somente no primeiro ano, 8 mil pessoas sejam beneficiadas em cursos organizados pelos diversos parceiros. Detalhes da iniciativa, intitulada Coalizão Rio Digital, foram apresentados hoje (26) durante seu lançamento na sede da Microsoft, uma das empresas envolvidas.

A mobilização envolve a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e organizações não governamentais (ONGs) como a Recode e o Observatório de Favelas. Entre as empresas, são mais de 20 participantes. Além da Microsoft, há outras grandes corporações como IBM, Embratel e Cisco. A Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) também integra a iniciativa.

O público-alvo são jovens de 14 a 29 anos que vivem em situação de vulnerabilidade social em 12 complexos de favela, como a Maré, o Alemão e a Rocinha. Haverá a preocupação de garantir uma participação significativa de mulheres negras. A iniciativa parte do desejo dos envolvidos em contribuir com a melhoria dos indicadores sociais no Rio de Janeiro nesse contexto histórico de intervenção federal na segurança pública da cidade.

“É uma mobilização do setor de tecnologia, como reação a esse estágio que se chegou o estado do Rio de Janeiro. Estamos fazendo nossa parte e vamos seguir mobilizando associações comunitárias para que possam ser nossas parceiras. Também queremos convidar mais empresas e organizações a se somar à coalizão”, afirma Rodrigo Baggio, presidente da Recode, ONG com foco na inclusão digital.

Os jovens terão inicialmente, na Recode, um curso de empreendedorismo social e introdução ao mundo digital, que inclui conhecimentos sobre rede social, internet, editor de textos e de planilhas e programas de apresentação. Em uma segunda etapa, aprenderão sobre desenvolvimento de aplicativos e gestão de projetos.

Posteriormente, poderão participar de cursos oferecidos pelas empresas parceiras. “Irá enriquecer o currículo. Imagina esses jovens com cursos feitos na Microsoft ou na IBM, por exemplo”, diz Rodrigo. A formação será conduzida de forma a priorizar o uso consciente e cidadão da tecnologia, reforçando as possibilidades de usos para o desenvolvimento pessoal e profissional. A carga-horária média será de 100 horas de cursos para cada jovem.

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Mercado

Segundo dados da Brasscom, entre o início de 2013 e fevereiro de 2018, o mercado de trabalho de software e serviços no município do Rio de Janeiro recuou 17,9%, destoando da recuperação do mesmo mercado em escala nacional, que avançou 2,2%. Enquanto foram gerados em todo o Brasil, neste período, 13 mil postos de trabalho, os cariocas perderam 9 mil vagas na área. O Rio chegou a concentrar, em 2013, 8,4% dos empregos do país no setor, mas o percentual atual é de 6,8%.

A Coalização Rio Digital proporcionará diferentes possibilidades de inclusão neste mercado. Os participantes terão auxílio para preparar currículos e serão mobilizados para a empregabilidade, podendo por exemplo preencher vagas de jovem aprendiz, de estágio ou de trabalho regular nas empresas parceiras. Ao mesmo tempo, serão capacitados para o empreendedorismo, para que sejam capazes de desenvolver iniciativas próprias para geração de renda.

Baggio avalia que a criação de oportunidades é fundamental para o combate à violência. “Nós fundamos a Recode em 1995, quando vivíamos aquele momento após as chacinas de Vigário Geral e da Candelária, ocorridas em 1993. Presenciávamos o início dos arrastões em diversos pontos da cidade, um crescimento da violência. E daí veio um período onde mais ONGs e movimentos nasceram como reação da sociedade no esforço de alterar o cenário. Hoje a situação preocupa e, infelizmente, não estamos observando este tipo de mobilização. Nós resolvemos fazer a nossa parte”, afirma.

Atualmente, a Recode possui 476 centros de empoderamento digital, distribuídos em sete países da América Latina. A ONG desenvolve ações com comunidades de baixa renda, escolas públicas, bibliotecas públicas, hospitais psiquiátricos, penitenciárias, populações indígenas, entre outros.


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