Nenhum outro setor da economia teve um desempenho tão negativo nos últimos anos quanto a construção civil. No primeiro trimestre, o PIB do setor, que engloba tanto o faturamento das construtoras como o salário dos trabalhadores, recuou 2,2% na comparação com o mesmo período de 2017. Foi a 16.ª queda consecutiva. E as empresas não veem perspectiva de melhora.

“Em nenhum momento a situação do setor (da construção civil) melhorou de verdade. O que estamos enxergando é que o ritmo da queda está diminuindo, mas continua caindo”, avalia o vice-presidente de Economia do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), Eduardo Zaidan.

A análise do executivo reflete a situação das empresas e, também, a realidade do mercado de trabalho do setor. Apesar de o ritmo de demissões na construção civil ter diminuído consideravelmente, ainda não há sinais de que as empresas começarão a contratar. Nos últimos 12 meses encerrados em abril, 58 mil vagas foram fechadas. Nos 12 meses anteriores, haviam sido 431 mil.

Por outro lado, a confiança do empresário – fator importante para que as contratações sejam retomadas e o segmento volte a se movimentar – caiu após a greve dos caminhoneiros. Em junho, marcou 79,3 pontos, ante 82,4 em maio.

“O País realmente está em um mato sem cachorro. Temos uma insegurança muito grande, que impede a geração de empregos e dificulta a tomada de decisões do consumidor”, afirma o empresário Milton Bigucci, dono da construtora MBigucci. “Mesmo sem dívidas, a minha empresa não vai lançar mais imóveis do que deve.”

Ele diz que a construtora lançou quatro empreendimentos neste ano e tem outros seis projetos, já aprovados pela Prefeitura de São Paulo, na gaveta. A empresa só fará novos lançamentos quando sentir que o consumidor está mais confiante para comprar um imóvel.

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“As incertezas na economia e na política estão muito fortes e o setor sente que o cliente está mais inseguro do que no começo do ano”, diz Bigucci,

Distratos

Diante desse cenário de crise, nem a aprovação na Câmara do projeto de lei que regulamenta os distratos – como são chamadas as desistências de compra de imóveis – parece animar Bigucci. “A pacificação dos distratos não me faria lançar os seis projetos (engavetados), mas lançaria quatro deles com mais segurança.” Durante a crise, muita gente devolveu imóveis comprados na planta e isso se tornou um pesadelo para as construtoras, que ficaram com produtos encalhados, tendo de ressarcir os compradores. O setor reivindica uma regulamentação para amenizar as perdas quando houver devolução.

Para Alexandre Frankel, dono da construtora Vitacon, o consumidor está mesmo mais assustado. “As incertezas fizeram com que a preocupação com a eleição se antecipasse. O que seria uma tempestade curta, de três meses, virou uma inquietação de seis meses.” De acordo com ele, a empresa não revisou a meta de lançar nove empreendimentos neste ano por acreditar que as vendas deverão melhorar depois do pleito de outubro.

Zaidan também projetava que 2018 seria o ano da recuperação, mas a realidade tem se mostrado diferente, diz. “Até maio, tínhamos a expectativa de que a economia pudesse reagir, mas, depois disso, tudo mudou. O otimismo desapareceu.”

Para ele, a situação da construção decorre da falta de investimento. “A construção é reativa ao estado da economia. As obras correspondem a 50% dos investimentos no País. Com o volume de investimento atual, não se faz nem manutenção da infraestrutura, muito menos construção.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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