Uma das maiores investidoras do Brasil, eleita pela Bloomberg Línea uma das pessoas mais influentes da América Latina, fundadora da plataforma ‘Ela Vence’, comunidade que conecta e inspira lideranças femininas, empreendedoras e investidoras, Camila Farani venceu recentemente o Women in Tech Latam Awards 2022, na categoria WIT Ally 2022 (Melhor Aliada da Tecnologia). Além disso, ela também já foi jurada do reality show ‘Shark Tank Brasil’.

Em entrevista à ISTOÉ, a empreendedora de sucesso falou sobre diversos assuntos, entre eles, o cenário no Brasil para a mulher que quer empreender. “O cenário do empreendedorismo e intraempreendedorismo feminino está em recuperação, alavancando milhares de mulheres e estimulando os negócios no Brasil. Tivemos um recuo na pandemia, muitas mulheres tiveram que fechar os seus negócios, mas agora estão retomando”, afirma.

“Por isso que eu digo para as lideranças das minhas empresas investidas pensarem em sua gestão com visão de inclusão, sentimento de pertencimento, growth, aprendizagem, foco e resiliência, porque o mercado muda constantemente e você precisa estar apto para essas mudanças. A minha dica para todas as mulheres é o meu lema de vida: desistir não é opção”, completa.

Nas redes sociais, Farani também faz grande sucesso. No Instagram, por exemplo, ela já conta com mais de 1,1 milhão de seguidores.

Ainda na entrevista, Camila falou também sobre o que a motivou no mundo do investimento, sobre a plataforma ‘Ela Vence’, criada por ela, deu dicas para outras mulheres que estão começando na área, e sobre sua representatividade na mídia e a influencia que tem na área.

Confira a entrevista completa com a empresária abaixo:

De que forma acredita que podemos estimular mais a participação de mulheres (que ainda são minoria) na área de investimentos? O que te motivou para o mundo do investimento?

Incluindo e capacitando mais mulheres a atuarem no mercado financeiro, de forma que possam assumir posição firme nas negociações. Outro fator importante é evidenciar exemplos de outras mulheres bem-sucedidas, para que elas possam entender que também podem chegar lá.

Um dos meus motivadores para ir para o mundo do investimento foi, justamente, poder olhar para os negócios liderados por todas as mulheres com mais atenção. As mulheres, muitas vezes, criam negócios inspirados nas dores de outras mulheres, que os investidores homens não conseguem entender.

Na semana passada, saiu o estudo inédito “Mulheres e o Ecossistema Empreendedor”, realizado pela Liga Ventures em parceria com o ELA VENCE (comunidade que conecta e inspira lideranças femininas, empreendedoras e investidoras, fundada por Camila Farani) e a PWN São Paulo. Entre os resultados encontrados, destaca-se que mais da metade das entrevistadas (59%) afirmou não ter tido acesso a investimento inicial e 32,5% disseram ter experienciado algum nível de dificuldade em obter capital para abrir seu negócio.

Lembro de uma situação, bem no início da minha jornada como investidora, em que um amigo me convidou para participar de uma avaliação de uma empresa de cosméticos, pois os investidores não entendiam desse universo. Fui e me apaixonei pelo investimento-anjo. Quando eu iniciei minha trajetória, o número de mulheres investidoras era zero – ou praticamente zero. Hoje esse índice está entre 10% e 12%, mas precisamos avançar muito mais.

Muitos desses pequenos e médios empreendedores, que são negros, ainda enfrentam dificuldades para serem entendidos como autoridades no que fazem. O que você acha que tem que ser mudado?

O atual perfil do empreendedor brasileiro é homem, branco, formado em universidade de ponta. Esse esteriótipo é, por sua vez, o primeiro desafio de um empreendedor negro, que precisa conquistar espaço. Isso leva tempo e muitas vezes é um processo doloroso. Quando os empreendedores são mulheres negras, o desafio dobra, pois entra mais de um preconceito: de gênero e de raça. E como vencer isso? Identificando que essa realidade existe. Ter essa autoconsciência é fundamental para desconstruir um ambiente onde o preconceito domina.

A empatia também é uma habilidade fundamental nesse processo. Para conversar, ter uma escuta ativa para todas as pessoas, é preciso entender como elas se sentem. E quando estamos falando de inclusão, temos que ser intencionais nas nossas ações. Tudo isso nos mostra que as barreiras enfrentadas por empreendedores negros irão diminuir quando as empresas adotarem uma postura de inclusificação, reconhecendo e celebrando perspectivas únicas e divergentes, criando um ambiente de colaboração e de mente aberta para que todos sintam que podem ser únicos e, ao mesmo tempo, que pertencem àquele ambiente.

Você fundou o ‘Ela Vence’, comunidade plataforma para o desenvolvimento de lideranças femininas. Como você vê o papel da mulher como gestora do negócio?

As principais dores das mulheres ao empreender estão sobretudo em capacitação, referências femininas, redes de apoio e fortalecimento dos argumentos para negociação. E foi pensando na minha experiência própria que criei o ELA VENCE, que já impactou mais de 500 mil mulheres, justamente para atender esses objetivos de inspirar, conectar e apoiar o desenvolvimento de lideranças femininas, empreendedoras e investidoras.

É importante que as empreendedoras se preparem, busquem entender como funciona a área que desejam atuar, quem são os concorrentes, qual é a dinâmica do mercado e quem serão os seus clientes.

Você acredita que mais investidores-anjos, como você, que acredita no poder das mulheres, pode aumentar o número de mulheres no poder?

Costumo dizer que investidor-anjo tem um papel fundamental no desenvolvimento da base de inovação de um país, já que ele apoia o empreendedor atuando como um conselheiro, criando pontes e oportunidades para as startups, ao mesmo tempo em que contribui para que o empreendedor amadureça.

Quanto mais diversas forem essas relações, mais rico é o conhecimento e a bagagem trazida para a empresa que recebe o investimento. Quando falo em complementaridade, me refiro a isto: a ter mais pontos de vista, relacionamentos e conexões trazidas por mulheres. Também acredito nesse ciclo virtuoso, em que mais investidoras encontram bons negócios e enxergam perspectivas também trazidas por startups fundadas ou lideradas por mulheres, conectando o ecossistema feminino de empreendedorismo, inovação e investimentos de forma geral.

Qual é a sua dica para outra mulher empreendedora que se espelha em você?

Cada vez mais entendemos a importância das mulheres não só para a economia mas também como força-motriz, inspiradas pela vontade de fazer acontecer. Ultimamente, tenho percebido um movimento no qual muitas mulheres deixam de empreender por necessidade e passam a empreender por oportunidade. Ou seja, elas escolhem empreender. Mas ainda é um momento de desafio, pois muitas dessas donas de negócios têm dupla ou tripla jornada. Aspirantes do empreendedorismo feminino precisam ser persistentes, sabendo que este é um caminho possivelmente solitário. Mas existe uma rede de apoio, representada por mulheres que já venceram muitos desafios e se tornaram líderes. Já é comprovado que mulheres em cargos de liderança inspiram outras, que muitas vezes se encontram em um momento de desesperança.

Nós, como mulheres empreendedoras e fomentadoras deste ecossistema, precisamos inspirar outras mulheres para que elas se sintam realizadas e, principalmente, capazes. O medo sempre vai fazer parte da equação, mas quando você começa a tateá-lo, vai perdendo ele aos poucos.

Você hoje, Camila, é considerada uma das grandes empresárias do Brasil. Você sempre soube que chegaria longe, que alcançaria suas metas?

Acho que todas as pessoas que têm uma visão crítica sobre si mesmas, que são exigentes com seu trabalho, que se preocupam em realizar entregas com excelência, em algum momento vão alcançar os seus objetivos. Eu me preparo muito para as coisas, estudo muito. Esse cuidado que tenho comigo e com todos que fazem parte dos meus negócios e do meu time é decorrente de muita autoanálise e autocrítica.

No geral, eu consigo me tratar bem e aceitar que, sim, eu fiz e faço coisas incríveis, que inspiram muita gente e têm impacto na vida de muitas pessoas. Esse caminho eu fui construindo pesquisando mercado, analisando concorrentes, estudando, aprendendo com pessoas que admiro, estando atenta ao que acontece no mundo.

Além de ter um forte alcance nas redes sociais, você é engajada em vários projetos, principalmente ligado a mulheres, escreveu um livro. Qual a representatividade de ter todo esse alcance e ter essa voz que influencia tantas pessoas?

Eu acredito muito no estímulo ao empreendedorismo e no aporte de capital e de conhecimento como o caminho para transformar a vida das pessoas e dos negócios. É isso que venho tentando fazer atuando como educadora, investidora e empreendedora. Tenho como missão pessoal ajudar a formar a nova geração de empreendedores do Brasil. Quanto mais ideias criativas que endereçam dores reais da sociedade saírem do papel e escalarem, mais conseguiremos responder aos desafios do século 21.

O empreendedorismo é fundamental para isso. Empreendedores movimentam a economia, geram riqueza para o Brasil e empregos. Eles lideram a criação de produtos que ajudam a modernizar setores tradicionais e decisivos para o desenvolvimento e competitividade do Brasil, como varejo, saúde, indústria, saúde e finanças. Sem falar que o empreendedorismo fornece um estímulo eficaz que pode ser ativado em momentos, por exemplo, de crise, de necessidade de retomada da economia.

Fico feliz de poder falar com tantas pessoas, de diversas formas. Eu sei da minha responsabilidade e tento usar com sabedoria cada espaço, pois sei que as pessoas confiam em mim e nas coisas que digo.