A empresa ÁS Formaturas, contratada para organizar a formatura da 106ª turma de medicina da USP (Universidade de São Paulo), comprometeu-se a realizar a festa dos formandos após a estudante Alicia Dudy Muller Veiga, de 25 anos, que presidia a comissão da turma, desviar quase R$ 1 milhão do fundo criado pelos universitários.
De acordo com membros da comissão de formatura, o dinheiro para a festa – prevista para acontecer em janeiro de 2024 – vinha sendo arrecadado pela empresa há quatro anos. No fim de 2021, Alicia solicitou a transferência dos valores para uma conta pessoal dela sem o aval de outros estudantes integrantes do grupo.
Conforme o Procon-SP, após uma reunião na segunda-feira (23), a ÁS Formaturas informou que vai entrar em contato com cada um dos 130 alunos para oferecer a festa de formatura. Se aceitarem a proposta, eles deverão manter os pagamentos até completar o preço total do evento e a empresa irá assumir o valor de quase um milhão que foi desviado.
Ao Procon-SP, a empresa informou que negociava diretamente com uma comissão de formatura – composta por cerca de vinte alunos – e que era esse grupo quem deliberava sobre a transferência de valores. Informou ainda que a comunicação acontecia por meio de um grupo de WhatsApp e que as transferências foram objeto de conversas somente no referido grupo, ou seja, não foi dado ciência a todo os alunos.
Para o órgão, o contrato da ÁS Formaturas com os formandos era informal e não garantia segurança jurídica para os alunos que contrataram a empresa. “O fato de o contrato ser omisso em diversos pontos, além de mal gerenciado, colaborou para que a transferência de valores para a aluna que fez o desvio acontecesse. Ressaltando que o Código de Defesa do Consumidor prevê a responsabilidade objetiva, independente de dolo ou culpa”, informou o Procon-SP.
Ainda segundo o órgão, as negociações da empresa com os formandos serão acompanhadas até a data da festa.
Desvio bancou aluguéis de carro e casa
A estudante Alicia Dudy Muller Veiga admitiu, em depoimento à Polícia Civil, ter sacado o dinheiro da turma e relatou ter usado parte dele para pagar despesas pessoais como aluguéis de imóvel e de carro e um iPad.
A estudante reforçou aos policiais a versão dada a colegas de que teria investido parte do dinheiro em aplicações financeiras e tido prejuízo. Segundo a delegada Zuleika Gonzalez Araújo, do 16.º DP (Vila Clementino), a jovem foi indiciada por apropriação indébita, crime com pena máxima de quatro anos de reclusão e multa. Ela responderá em liberdade.
De acordo com informações da Secretaria da Segurança Pública (SSP), o dinheiro foi usado por Alicia para pagar, por exemplo, cinco parcelas de aluguel de um apartamento no valor de R$ 3,7 mil mensais e dez parcelas de locação de um carro, que saía a R$ 2 mil mensais. Somente essas duas despesas totalizam mais de R$ 38 mil.
O depoimento durou cerca de quatro horas, período em que Alicia contou aos policiais que, em um primeiro momento, teria sacado o dinheiro da empresa Às Formaturas – contratada pelos estudantes para organizar a arrecadação – por desconfiar da gestão que estava sendo feita pela companhia.
O primeiro saque, realizado ainda em 2021, foi no valor de R$ 604 mil. Com o dinheiro em mãos, Alicia pensou que poderia investi-lo, teve prejuízo e, no desespero de recuperar a quantia, passou a fazer apostas em casas lotéricas.
“Ela foi aplicando em ações e começou a obter prejuízo. Quando acumulou R$ 50 mil em prejuízo, no desespero, ela achou que apostando na loteria, ela poderia recuperar essa perda”, disse a delegada. Alicia ainda não apresentou à polícia os comprovantes das aplicações.
Alicia é investigada em outro inquérito desde julho de 2022 por estelionato e lavagem de dinheiro após ter dado um suposto golpe em uma lotérica da zona sul de São Paulo. De acordo com a Polícia Civil, a estudante teria gasto mais de R$ 400 mil em apostas no período, mas, na última data em que tentou fazer um jogo, não teria pago R$ 192 mil para a lotérica, o que fez o dono registrar a ocorrência.
A polícia investigará se a empresa Ás Formaturas teve alguma responsabilidade ou negligência no repasse do dinheiro, mas, como Alicia era presidente da comissão de formatura, ela, em tese, poderia responder pela turma na ação.
* Com informações da Agência Estado