A empresa Verzani & Sandrini, que atua com serviços de terceirização no Shopping Pátio Paulista, causou indignação nas redes sociais após abrir uma vaga de emprego cuja função seria abordar pedintes, menores e pessoas em situação de rua para tirá-los do foco do cliente.
O anúncio rodou diferentes plataformas de trabalho, sempre sob procura de uma pessoa formada em Assistência Social para lidar com a população em situação de rua presente na área.
A atuação seria feita no Shopping Pátio Paulista, com quem a companhia faz parceria terceirizada para serviços de limpeza, manutenção, segurança e vigilância. O shopping fica na rua Treze de Maio, muito próximo da Avenida Paulista, ponto conhecido da Grande São Paulo.
Por meio do Instagram, o Padre Júlio Lancellotti divulgou o ocorrido e apontou o caso como “Aporofobia Institucional”. O religioso é conhecido pelas ações sociais e combate contra discriminação de pessoas vulneráveis. Foi ele o responsável por popularizar o termo “aporofobia” – o qual abrasileirou para “pobrefobia”.
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Em nota, a Verzani & Sandrini alegou que o conteúdo foi divulgado de forma inadequada, por meio de um sistema automático de replicação. Segundo a companhia, a solicitação para retirada de todos os anúncios referente à vaga já foi realizada.
Por sua vez, o Shopping Pátio Paulista afirmou à IstoÉ que não teve qualquer conhecimento da descrição da vaga divulgada, “que foi feita por uma empresa terceira, responsável pela contratação de profissionais de diversos segmentos. E que não compactua com esse tipo de abordagem”. O comunicado enfatiza que a descrição do emprego não condiz com os valores da empresa, que preza pelo respeito às pessoas.
“O shopping esclarece que as vagas de assistência social existem para oferecer acolhimento humanizado às pessoas em vulnerabilidade social que buscam o estabelecimento como um pedido de ajuda. E, em função disso, firmou um convênio com o programa “Cidade Protetora”, da prefeitura de São Paulo, para que essas pessoas possam ser encaminhadas para projetos sociais nos quais poderão ter uma assistência adequada.
O shopping Pátio Paulista mais uma vez repudia veementemente a descrição da vaga anunciada e abrirá uma sindicância para apurar os fatos e impedir que esse tipo de situação volte a acontecer”, escreve.
O que é ‘pobrefobia’?
De origem grega, a palavra “aporofobia” foi cunhada pela filósofa espanhola Adela Cortina para denominar a aversão aos pobres. Porém, no Brasil e na América Latina, a expressão não causava a familiaridade necessária para que pessoas vulneráveis se apropriassem do mal que sofriam.
Ao notar a dificuldade de utilizar o termo, Padre Júlio – em parceria com o escritor e sociólogo Pablo Escobar – adaptou para “pobrefobia”, a fim de tornar o combate mais acessível e identificável.
Tal preconceito se caracteriza pela invisibilidade e rejeição do outro a partir da sua condição social. A popularização no Brasil começou pelos debates sobre “arquitetura hostil”, que dificulta ou impede a circulação de pessoas em situação de rua.
Detalhes da vaga
O anúncio do emprego continha especificações sobre a abordagem de “pedintes, menores e pessoas em situação de rua para tirá-los do foco do cliente e posteriormente fazer uma ação social com a prefeitura”.
Nessas condições, exigia ensino superior, graduação em Assistência Social e conhecimento sobre o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) – que atende pessoas em estado de vulnerabilidade.
Além disso, solicita inscrição no Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo (CRESS) e competência em Pacote Office para produzir relatórios mensais para o shopping. Já os benefícios contam com vale-refeição e alimentação, assistência odontológica, vale-transporte e gympass.
A vaga também especifica que o indivíduo em situação de rua – que eventualmente fosse abordado – deveria ser direcionado aos encargos municipais.

Anúncio da vaga de emprego