Thabiso Ratsoane grita até perder o ar quando um de seus atletas está na pista: a emoção desse treinador do Lesoto contagia a tribuna do estádio olímpico do Rio, praticamente vazia no primeiro dia dos Jogos Paralímpicos.

Pouco mais de um terço dos lugares está ocupado, mas isso não inibe o entusiasmo do público, que com aplausos e “olas” fizeram festa, sobretudo quando os brasileiros competiam.

Odair Santos conseguiu no Engenhão ganhar a primeira medalha do Brasil: prata nos 5.000m T11 (deficiente visual). Depois, Ricardo Costa de Oliveira conquistou o primeiro ouro, no salto em distância.

Os gritos de “Brasil, Brasil!” ecoaram cada vez mais alto, no estádio e em outras instalações, como nas áreas de judô e de tênis de mesa, igualmente vazias.

Uma voluntária estima que a presença do público no Parque da Barra, na Zona Oeste, a 18 km do estádio de atletismo, foi até quatro vezes menor do que no primeiro dia de competição dos Jogos Olímpicos, no mês passado.

O fato de a prefeitura não ter decretado feriados para esse evento também pesou. A cerimônia de abertura no Maracanã, por exemplo, lotou na quarta-feira, 7 de setembro.

O diretor de Comunicações do Rio-2016, Mario Andrada, considerou “gratificante” que se tenha vendido 1,7 milhão de ingressos até agora, “em uma competição que é nova nessa parte do universo” e garantiu que os parques ficarão cheios de estudantes de escolas públicas.

A organização espera que o restante dos ingressos disponíveis se esgote.

“Resistência”

A atriz Juliana Terra, de 36 anos, e seu companheiro, Antônio Tigre, professor de ioga de 37, estiveram no Engenhão para celebrar as medalhas do Brasil. Esperam que no final de semana haja mais público.

“Há certa resistência e ignorância com os Jogos Paralímpicos. Nós preferimos ver isso, que é uma mostra de superação”, disse Juliana à AFP.

O parque aquático, onde o multicampeão brasileiro Daniel Dias estreia, ficou cheio pela manhã, e a expectativa é que aconteça o mesmo à noite.

Paul Eduardo Paggiossi, funcionário público de 54 anos, se dirigia para lá com sua filha Maria Eduarda, que tem a espinha bifurcada desde o nascimento e tem dificuldades para caminhar.

A organização lhe ofereceu uma cadeira de rodas para ajudar em sua locomoção.

“Está funcionando muito bem. É o primeiro dia, esperamos que continue assim. Para alguém com pouca capacidade de mobilidade, 100 metros são 10 quilômetros”, explicou.

“Bem organizado”

Às instalações esportivas, só se pode chegar por transporte público.

No primeiro dia dos Paralímpicos, o metrô para a Barra da Tijuca voltou a abrir apenas para quem tem ingresso, ou credencial. Ao estádio de atletismo, chega-se por trem, que tem circulado pontualmente.

O ex-atleta paralímpico Jadir Antunes, de 49, chegou cedo à Barra na cadeira de rodas, com sua família, para ver uma partida de basquete. Pegou o metrô e o BRT.

“Ficou muito bom, muito bem organizado”, disse Antunes, que participou dos Jogos de Barcelona-1992. Ele perdeu as duas pernas aos seis anos de idade, em um acidente de trânsito.

“No Rio, as coisas precisam melhorar muito. As ruas têm buracos, as plataformas para cadeiras de rodas dos ônibus estão quase sempre quebradas e o mesmo acontece com os elevadores do metrô”, lamentou.

Protesto político

Em competições internacionais desse porte, costumam surgir tensões diplomáticas. No Rio, isso já aconteceu no primeiro dia, já que o Comitê Paralímpico Internacional (CPI) cancelou na segunda-feira (5) a acreditação de um membro da delegação do Belarus, por um “protesto político” contra a decisão de excluir a Rússia dos Jogos.

A medida está relacionada com o escândalo de doping como política de Estado, que também atingiu uma centena de atletas olímpicos.

Discordando da exclusão, o delegado do Belarus, país aliado de Moscou, desfilou com uma bandeira russa durante a cerimônia de abertura no domingo.

“Consideramos que carregar uma bandeira de uma nação que não é a sua, e de uma nação que não está aqui, é um protesto político”, ainda mais pelo fato de “o presidente do comitê paralímpico do Belarus ter sido muito crítico” quanto à decisão de suspender a Rússia, explicou à AFP p diretor de comunicação do CPI, Craig Spence.

“O protesto político não é permitido nos Jogos Paralímpicos. Se continuarem com essas ações, vamos nos reunir de novo e decidir que medidas tomar”, alertou.

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