As emissões de gases de efeito estufa aumentaram no Brasil durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, atingindo níveis de mais de 15 anos atrás, de acordo com um relatório divulgado nesta quinta-feira (23).

O Observatório do Clima, aliança brasileira de organizações ambientalistas, responsável pelo relatório, instou o país a aumentar suas metas de redução de carbono.

O Brasil emitiu 9,4 bilhões de toneladas métricas de gases de efeito estufa durante a administração de Bolsonaro (2019-2022), ultrapassando os 9 bilhões pela primeira vez desde 2003-2006, indicou o Observatório em seu relatório anual de emissões.

Em 2022, as emissões do país caíram 8%, para 2,3 bilhões de toneladas, segundo o documento.

Mas esse registro foi o terceiro mais alto desde 2005, sendo superado apenas pelos de 2019 e 2021, também sob a presidência de Bolsonaro.

Parte da queda em 2022 foi atribuída às fortes chuvas que levaram o país a gerar energia a partir de sua vasta rede de hidrelétricas.

Visto que o Brasil, como grande parte do mundo, tem sido afetado por uma recente série de desastres ambientais, a aliança destacou que os números são um alerta sobre a urgência de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, meta do Acordo de Paris.

“Os extremos catastróficos do ano de 2023 mostraram ao mundo o que é a vida acima de 1,5ºC e deixaram claro que ninguém quer isso”, disse em comunicado Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

A cifra de emissões coloca o país como o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, depois da China, Estados Unidos, Índia, Rússia e Indonésia, detalha o relatório. Se a União Europeia for considerada como uma unidade, o Brasil cai para o sétimo lugar.

O relatório constatou que a maior parte das emissões do Brasil no ano passado (48%) tinha origem no desmatamento, especialmente na floresta amazônica, considerada um recurso vital contra as mudanças climáticas. O setor agrícola ficou em segundo lugar, com 27%.

O desmatamento na Amazônia aumentou drasticamente durante o governo Bolsonaro, que favoreceu o avanço da agricultura e da mineração na região.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu acabar com o desmatamento ilegal até 2030.

Segundo os autores do estudo, divulgado antes da Conferência do Clima da ONU que começa na próxima semana, o Brasil tem espaço para reduzir suas emissões muito além do que prometeu no Acordo de Paris (para 1,2 bilhões de toneladas até 2030).

“Se o governo estiver falando sério […], terá de aumentar a ambição da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) atual já para 2030, como todos os grandes emissores precisam fazer”, disse David Tsai, coordenador do estudo.

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