A volta do governo argentino ao mercado de crédito externo após 15 anos foi repetidamente mencionada em fórum realizado em São Paulo como exemplo de que o Brasil também pode dar a volta por cima. Na maior parte das menções feitas, os palestrantes ressaltaram que as restrições ao mercado de crédito vividas pelo Brasil são passageiras e que uma sinalização de mudança nas políticas macroeconômicas, essencialmente na direção do ajuste fiscal, tende a fazer com que o investidor esqueça o passado. A Argentina atraiu hoje US$ 70 bilhões em demanda para sua emissão de bônus de várias tranches, que totalizou US$ 16,5 bilhões. A Argentina deixou de pagar sua dívida externa em 2001.

A expectativa de mudança a partir da posse do presidente pró-mercado Mauricio Macri, em substituição a Cristina Kirchner, foi suficiente para guiar os investidores para os bônus da Argentina, disse Alexei Remizov, diretor responsável pelo mercado de dívida do HSBC, um dos coordenadores da emissão argentina. “Os fundamentos da Argentina ainda não são totalmente sólidos, mas os investidores foram atraídos pela perspectiva de mudança e o Brasil pode também se beneficiar disso”, comentou Remizov.

A sócia da Hogan Lovells, Isabel Carvalho, destacou que o mercado não tem memória muito longa. “Há poucos anos a Argentina deixou de pagar a sua dívida e agora há muito apetite para o país. É interessante ver como a percepção dos investidores muda rapidamente”, disse.

Um executivo de banco de investimento local, que preferiu não ser identificado, considerou que a demanda para a operação argentina chama a atenção e é curiosa. Na sua opinião, a mensagem inicial é de que o mercado virou muito rapidamente a página em relação ao calote, o que pode ser explicado por uma necessidade de alocação, na esteira de continuidade do juro baixo globalmente.

A emissão da Argentina foi feita em quatro tranches, sendo que a de dez anos foi emitida com yield de 7,5%, pouco acima da do Brasil, que captou no mesmo prazo pagando 6,125% em março. O Brasil carrega, entretanto, nota de crédito superior à da Argentina, que estava em moratória desde 2001, mas no final de março obteve autorização do Senado para saldar dívida com credores que não aceitaram as reestruturações de 2005 e 2010. A partir dessa autorização, a Argentina teve sua nota de crédito elevada e retomou o acesso ao mercado internacional.