Emicida revisita suas origens ao homenagear Racionais MCs em novo álbum

Segundo o artista, o novo projeto é uma maneira de enviar um “obrigado” aos mestres

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Emicida divulga novo projeto Foto: Reprodução/Instagram

Seis anos depois do bem-sucedido “Amarelo” (2019), Emicida apresenta ao público o álbum “Emicida Racional VL 2 – Mesmas Cores & Mesmos Valores, um trabalho em que o artista presta homenagem aos Racionais MCs, ícones do rap e inspiradores de muitos nomes da música brasileira, como o próprio Emicida, nascido Leandro Roque de Oliveira há 40 anos.

Na discografia do grupo composto por Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e KL Jay,Cores & Valores”, de 2014, é a quarta obra gravada em estúdio – e também a última, embora eles continuem na estrada. As canções desse álbum ganham releitura e embalam o novo projeto de Emicida.

O rapper evoca o escritor argentino Julio Cortázar para explicar o momento que gerou o novo álbum. Como Emicida pontua em texto de apresentação do trabalho, o genial autor dizia que havia passado por três etapas em sua trajetória literária: estética, metafísica (na “busca pelo ser e pela razão de ser”) e histórica.

Esse caminho também está sendo percorrido pelo artista, paulistano da zona norte. Enquanto sua fase estética era a dos freestyles e das primeiras mixtapes, os discos “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui” (2013), “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa” (2015) e “Amarelo” representam a etapa metafísica.    

“A última fase é esta em que acredito estar entrando agora: a histórica, em que me compreendo como a parte mais recente de grandes movimentos imaginativos produzidos por ‘nóiz’ enquanto povo ao longo de toda a história desse pedaço de chão que hoje chamamos de Brasil”, conta. 

Ele reforça que a proposta de homenagear o grupo que durante toda a vida o inspirou é uma maneira de enviar um “obrigado” aos mestres. “Se Mano Brown diz que sua vida foi salva pelo Public Enemy, foi o Racionais quem salvou Emicida”, destaca.

Para o projeto, o rapper convidou dois artistas, parceiros de batalha de rima, e que o acompanharam em show dos Racionais na praça da Sé, em 2007: Rashid e Projota, dois artistas também da zona norte de São Paulo. Outro convidado é Amaro Freitas, pianista recifense. E há ainda um parceiro antigo do rapper, DJ Nyack. As fotos do álbum são assinadas por Walter Firmo.

“Mesmas Cores & Mesmos Valores” é composto por dez faixas – e uma delas com direito a clipe. Já disponível no YouTube, “Quanto vale o show memo?” é uma animação com direção de Pedro Conti e Diego Maia e roteiro da dupla com Emicida. É impossível não notar mais uma parceria na produção do trabalho: a natureza.

Por todo o disco, ouvem-se pássaros, sons de ambiente externo e até caminhadas por seixos. São ruídos naturais captados na casa de Emicida, na serra da Cantareira (zona norte), onde “Mesmas Cores & Mesmos Valores” foi gravado.  

E, por falar de história e de origem, a primeira canção presta outra grande homenagem. Em “Bom dia né gente? (ou saudade em modo maior)”, a música tem sua força em áudios de dona Jacira, escritora, artista plástica e mãe do rapper, que morreu neste ano. A série de comentários, frases, mensagens cotidianas, como “Precisa comprar alguma coisa especial para esse seu povo vegetariano?” e “Acho que estamos em dois mundos diferentes porque aqui está um sol danado”, é tão impactante que é inevitável a emoção. No fim, ouve-se o choro de Emicida.

Em seu perfil na mídia social, o rapper explica que a intenção do álbum “Mesmas Cores & Mesmos Valores”, desde o primeiro momento, foi criar uma espécie de viagem interna. “É como um jogo investigativo. Ele cria sensações e colocando imagens na cabeça”. Para o artista, o rap fica em uma linha tênue entre arte e comunicação. Com o novo trabalho, Emicida faz, de fato, uma viagem interna muito profunda. Íntima e carregada de sentimentos.