Quando pequeno, Leandro Roque de Oliveira era fissurado por viver no universo fantasioso das histórias em quadrinhos. Fugia para dentro daquelas tramas levadas por personagens heroicos, com poderes especiais, gadgets, aventuras espaciais. Era um escape da vida real de um garoto introspectivo, quietinho e na dele. Passou a desenhar e, veja só, o seu plano A era ser quadrinista, não rapper.

Leandro, hoje Emicida, esteve na última segunda-feira, 29, em Los Angeles, para acompanhar a pré-estreia mundial de Pantera Negra, o personagem sobre o qual sempre quis saber mais na infância, mas que, no Brasil, nunca teve um título próprio. “Foi bacana, mano. Bem f…, histórico”, diz ele. “O Pantera nunca teve espaço. É importante para que as pessoas tenham ele como referência.”

Pantera Negra é o primeiro filme da Marvel Studios, a grande máquina de fazer dinheiro de Hollywood atualmente, a ser protagonizado por um personagem negro. No filme, discute-se muito a questão racial, igualdade e ancestralidade, por meio da história de T’Challa, o rei do país africano fictício Wakanda.

Dias antes da estreia do filme – a entrada no circuito nacional está marcada para o dia 15 de fevereiro -, Emicida fez a sua própria homenagem ao personagem. Lançou, na última sexta, 2, a música Pantera Negra, com referências claras ao personagem criado por Stan Lee e Jack Kirby, em 1966, ao partido político Panteras Negras e à sua própria trajetória de vida.

“Tudo começou com uma ligação do Felipe Vassão”, conta Emicida. O músico foi parceiro de Emicida na música Triunfo, lançada há uma década e considerada pelo rapper o início da sua carreira profissional no rap. “O que você acha de escrever um rap sobre o Pantera Negra?”, perguntou Vassão. “Topei na hora”, conta. A última vez que trabalharam juntos havia sido em O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui, o primeiro disco de estúdio de Emicida, lançado em 2013. Discutiram ideias de batidas. “Fomos na ideia dele”, conta Emicida.

O rapper, na sua música, enfileira referências que vão do universo dos quadrinhos e da vida real. Usa a rima em primeira pessoa, com um refrão que explode: “Sou vingador, vingando a dor / Dos esmagados pela engrenagem”, canta Emicida. No refrão, ele exalta a batalha: “Com a garra, razão e frieza, mano / Se a barra é pesada, a certeza é voltar / Tipo Pantera Negra”.

O guri que, por vezes, sem dinheiro para comprar a edição seguinte e desenhava, ele mesmo, a continuação da história, fez de si uma espécie de super-herói. Ergueu-se contra as expectativas, revolucionou o rap nacional ao profissionalizar o movimento e empreendeu ao criar a Laboratório Fantasma. “Gosto de encher de referências, por vezes desconexas, para criar essa atmosfera.”

Pantera Negra, o filme, dialoga com a cultura hip-hop em diferentes maneiras, inclusive na trilha sonora oficial, que conta com cinco faixas do bombadíssimo Kendrick Lamar.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.