Diante de uma seleta plateia virtual com nomes de peso do empresariado e ex-ministros de diferentes governos, o embaixador americano no Brasil, Todd Chapman, foi bastante taxativo: a preservação da Amazônia é um tema fundamental para as negociações entre o Brasil e os Estados Unidos em várias frentes. Em um ponto crucial, ele afirmou que este será um fator definidor para a provável entrada do País na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), movimento cobiçado pelo governo de Jair Bolsonaro desde 2019, e para o qual o Brasil conseguiu apoio formal do governo de Donald Trump no início de 2020. Com a chegada do democrata Joe Biden à Casa Branca, o Brasil terá de mostrar resultados.

“O tema ambiental é importante também para esta agenda (de entrada) da OCDE”, disse Chapman na noite deste domingo (11), em live promovida pelo grupo Parlatório, que reúne economistas, empresários e advogados. A resposta veio a uma pergunta de Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e hoje diretor de estratégia econômica e relações com mercados do Banco Safra.

Levy era um dos nomes importantes que acompanharam a live. Do setor financeiro, Sylvia Coutinho, chefe do UBS no Brasil e da área de gestão de fortunas na América Latina, estava entre os presentes. Também acompanharam a transmissão – e fizeram perguntas – nomes como o ex-ministro do desenvolvimento e atual presidente do conselho do Lide, Luiz Fernando Furlan, e o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Entre os que apenas assistiram esteve Wilson Ferreira Jr., presidente da BR Distribuidora. Mais de 100 pessoas chegaram a acompanhar a transmissão.

A preservação da Amazônia foi colocada por Chapman como o principal ponto de atenção em vários temas da relação Brasil-EUA. Perguntado sobre a possibilidade de um acordo de livre comércio entre os dois países, por exemplo, ele afirmou que o tema ambiental precisa ser “trabalhado” pelo Brasil antes de qualquer discussão, assim como leis trabalhistas e questões de direitos humanos e dos povos indígenas. “O Brasil é estratégico para a agenda de meio ambiente do presidente Biden”, afirmou.

Nesta agenda, porém, o diplomata considerou que o compromisso deve vir não apenas do governo brasileiro, mas também do setor privado, que precisa inclusive investir na preservação ambiental. “A solução (para a Amazônia) não é mais investimento do governo, mas do setor privado”, afirmou. “O setor privado não vai querer pagar a conta de quem está se aproveitando ilegalmente da Amazônia.”

Ainda nas relações econômicas bilaterais, o embaixador disse que o governo americano acompanha as discussões a respeito da reforma tributária no Brasil, e que há grande interesse das empresas americanas em um acordo entre os dois países sobre a tributação de suas receitas nos dois mercados. “Antes de chegar ao Brasil essa questão da dupla tributação foi o pedido nº 1 do setor privado norte-americano, e um tratado vai ajudar esses US$ 145 bilhões de investimento que estão aqui, mas essa é uma questão que passa por vários temas técnicos”, afirmou.

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Vacinação

Uma pergunta frequente da plateia virtual foi a respeito da possível destinação ao Brasil de vacinas contra a covid-19 que os EUA compraram, mas que não estão usando – como a de Oxford/AstraZeneca, que ainda aguarda a aprovação em solo norte- americano, mas que foi adquirida pela Casa Branca. Chapman evitou assumir compromissos, mas admitiu que há negociações a respeito. “Diplomatas em Washington têm avaliado a questão das vacinas para ajudar ao Brasil. Já falei com o ministro da Saúde (brasileiro) e vamos continuar nesse diálogo.”

Chapman destacou que empresas americanas, como a Pfizer e a Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, já firmaram acordos para vender ao País 138 milhões de doses de vacinas contra a covid-19. Ele lamentou, porém, a demora no fechamento dos acordos. Nos dois casos, o governo fechou as compras apenas no primeiro trimestre de 2020, depois de vários outros países, o que postergou a entrega das doses. “Gostaria que esses contratos tivessem sido firmados antes, para já termos vacinas (no Brasil)”, disse.

O embaixador reiterou a previsão do governo americano de que toda a população adulta dos EUA será vacinada até o final de maio, o que não seria uma surpresa “quando se investe US$ 12 bilhões” em vacinas, em sua visão. Ele evitou, no entanto, maiores comentários a respeito da compra de vacinas pelo governo brasileiro.

Em outra resposta, Chapman afirmou ainda que não há decisões a respeito de “passaportes vacinais” para que quem tomou a Coronavac, que no Brasil, constitui a maior parte do programa de vacinação contra a covid, possa entrar nos EUA. A vacina, uma parceria entre a empresa chinesa Sinovac e o Instituto Butantan, não está aprovada para uso nos EUA.


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