A economia se move por expectativas, dizem os especialistas. O truísmo é meio óbvio em qualquer área, mas especialmente importante nesse segmento que depende de investimentos que levam anos e que tem como um dos pilares o mercado financeiro, capaz de fazer fortunas entrarem e saírem do País com um clique de computador.

E, nesse quesito, a nova equipe econômica tem sido uma grande decepção. Enquanto Lula ironizava “os mercados” e afugentava fundos internacionais ao brecar qualquer iniciativa de privatização, seu novo ministro poderia antecipar medidas capazes de indicar um rumo à nova administração. O plano não veio: apenas a indicação da volta da ocupação política das estatais, do subsídio para setores escolhidos a dedo, de um novo PAC e de uma reindustrialização temerária bancada com dinheiro público. Não deu certo antes, não dará certo agora.

A decepção com a posse do novo time econômico fez a Bolsa despencar, o dólar aumentar e os juros futuros subirem. Mas Haddad preferiu enxergar outra razão: “Está caindo a ficha do mercado com o conhecimento dos números sobre as medidas do governo anterior”. A cortina de fumaça improvisada também tentou disfarçar o fato de que ele já começou como um pato manco, pois foi desautorizado pela ala política do PT na primeira medida que propôs, o fim dos subsídios aos combustíveis determinados por Bolsonaro.

Na posse, Haddad também prometeu mandar uma nova norma em “até seis meses” para substituir o teto de gastos. A promessa é desnecessária, já que estava prevista na própria PEC da Gastança. Como não tem um plano de voo, e Lula se elegeu sem se comprometer com nenhum programa econômico, Haddad é obrigado a repetir platitudes sobre responsabilidade fiscal e social ou a negar que exista uma “bala de prata” na economia. A Reforma Tributária já saiu dos discursos e nenhuma proposta de redução de gastos apareceu.

Lula foi hábil ao indicar Geraldo Alckmin para o Ministério do Desenvolvimento e da Indústria e ao nomear Simone Tebet para o também recriado Ministério do Planejamento. No primeiro caso, não conseguiu convencer nomes de peso do empresariado para assumir a função. Mas tinha uma carta na manga: o ex-tucano e ex-governador de São Paulo, que rejeitava a estatização do PT. Tebet entra com a face “quase liberal”, com “ideias próprias”. Provaria que este é um governo plural, formado por uma frente ampla, ao invés de reeditar as velhas teses petistas. Mas, se o próprio Haddad será enquadrado por Lula e pelo PT, que chance terá a ex-senadora?

Resta ao “mercado” refazer seu planejamento e se preparar para o pior. Em suas primeiras declarações, Haddad criticou o aumento da Selic na era Bolsonaro, de 2% para 13,75%, “o maior juro real do mundo”. Esqueceu-se de dizer, ou convenientemente omitiu, que a queda histórica dos juros foi possível exatamente pela introdução do teto de gastos, implodido por Bolsonaro com o apoio do PT. E que o aumento dos juros ocorreu porque a inflação voltou aos dois dígitos em função dos gastos irresponsáveis e populistas patrocinados pelo governo do capitão, de novo com o apoio do PT.

Tudo leva a crer que o Banco Central independente, um raro avanço  da era Bolsonaro, também já está com os dias contados. Haddad disse que espera “cooperação” entre a instituição e a Fazenda, o que é um indicativo de que o novo governo pode repetir Dilma Rousseff e tentar forçar a diminuição artificial da taxa Selic. Vale a pena repetir: não deu certo antes, não pode dar certo agora. É óbvio que as expectativas tendem a se traduzir em pessimismo crescente quando o novo governo começa com tantas indefinições e sinalizações preocupantes. O mercado de trabalho pode reverter a recente recuperação, os empresários mudam suas apostas, os investidores  refazem as contas e a classe média se prepara para um provável aumento de impostos. Enquanto isso, restará cada vez mais ao novo ministro mirar o governo anterior. É mais fácil achar culpados do que apresentar soluções.