Após dois anos de muita oferta e procura, o mercado de Letra de Crédito Imobiliário (LCI) e Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) minguou. Diante de um cenário de recessão e restrição de crédito, a emissão de LCI caiu 40% em abril ante o mesmo mês de 2015, atingindo R$ 9,7 bilhões, o menor valor desde novembro de 2013. A oferta de novas LCAs, por sua vez, teve queda de 36%, segundo dados da Cetip.

LCI e LCA são produtos de renda fixa lastreados em empréstimos bancários para o setor imobiliário, no primeiro caso, e para o agronegócio, no segundo. Incentivadas pela isenção de Imposto de Renda, essas modalidades de investimento tiveram forte expansão entre 2013 e 2015, pois eram uma forma de captação mais barata para os bancos e ofereciam taxas atrativas para os investidores.

Como consequência desse período, as letras ainda são os produtos mais populares entre os investidores pessoa física na renda fixa, excluindo CDB e Tesouro Direto. Pesquisa inédita da Cetip mostra que, em março, 897,9 mil investidores tinham aplicação em LCI, sete vezes mais do que o segundo colocado, a LCA.

Segundo o superintendente de produtos da Cetip, Carlos Albuquerque, esses números refletem a estratégia comercial dos bancos. Quando eles precisaram captar recursos para as carteiras de crédito imobiliário e de agronegócio, incentivaram a aplicação em LCI e LCA, oferecendo taxas atrativas. Em 2016, as necessidades mudaram.

“A desaceleração da economia fez com que os investidores ficassem menos propensos a tomar empréstimos, e os bancos, do outro lado, restringiram o crédito com receio de inadimplência”, afirma o coordenador do Laboratório de Finanças do Insper, Michael Viriato. “Com menor necessidade de captar recursos, os bancos reduziram o ritmo de novas emissões.”

Por isso, quem busca investir em LCI e LCA tem tido mais trabalho para encontrar opções vantajosas. Segundo Viriato, a menor necessidade de captação fez os bancos diminuírem a taxa paga aos clientes. “O investidor precisa fazer contas e comparar. Alguns bancos vendem LCI a 80% do CDI por causa da isenção de IR, e CBD com taxa perto de 100% do CDI. Ainda pode ter alguma vantagem, mas ficou muito pequena”, diz.

A Caixa, líder em emissões de LCI, afirmou apenas que aumentou o estoque total das LCIs e diminuiu o de LCAs em 2015. Sobre as taxas, o banco informa que “houve ajuste para manter a atratividade do produto, alinhado à política de captação da empresa”.

O BB, que responde por 68% do mercado de LCAs, diz que não houve alteração na emissão dos produtos e que as taxas variam de acordo com o valor aplicado e o nível de relacionamento do cliente com o banco.

Viriato lembra ainda a possibilidade de as LCIs e LCAs passarem a ser tributadas. No ano passado, o governo cogitou a cobrança de IR sobre esses produtos, mas a medida provisória não foi votada e expirou. Viriato acredita que isso deverá voltar a ser discutido em algum momento e, caso se confirme, as letras perderão a vantagem sobre outros produtos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.