Alexandre Campello ainda tem mais dois meses de mandato como presidente do Vasco, mas neste terça-feira (17) enviou uma carta aos torcedores do gigante da colina em tom de despedida.

No documento, Campello chegou a usar uma frase conhecida do Capitão Nascimento, personagem interpretado por Wagner Moura no filme “Tropa de Elite”. Além disso, o presidente do Vasco lembrou da sua trajetória desde a infância em Nilópolis, na Baixada Fluminense, até assumir o cargo mais importante do clube carioca.

Outro ponto do relato do dirigente vascaíno é, segundo ele, o desmantelamento de um esquema que “roubava dinheiro do clube”.

“Ainda no início da gestão, desmantelei um esquema dentro da Operação de Jogos. Não vou usar de meias palavras: funcionários, com a conivência — ou melhor — a cumplicidade de dirigentes, roubavam dinheiro da bilheteria em todas as partidas. Não satisfeitos, essa quadrilha ainda apresentava recibos fajutos para inflar as despesas de jogo, em conluio com prestadores de serviço. Cortamos esse mal pelo raiz”, afirma o presidente.

Confira a carta na íntegra

Nasci e cresci em Nilópolis, em uma família com poucos meios, mas muitos princípios.

O que nos faltava em posses sobrava em exemplos de vida.

Meus pais deram muito duro para que eu e meus irmãos tivéssemos o essencial e pudéssemos estudar. Devo a eles tudo o que sou.

Não posso reclamar da vida. Sou um privilegiado. Logo aos 24 anos, consegui unir a minha atividade profissional à paixão de infância. Em 1984, entrei no Vasco para trabalhar no Departamento Médico da categoria juniors. Pouco depois, estava entre os profissionais, fazendo parte de uma das épocas mais gloriosas da história do Clube.

A atividade de cirurgião não permite trabalhos pela metade. Na minha vida, sempre encarei os desafios de forma plena e com muita intensidade. Gerir o Club de Regatas Vasco da Gama, uma paixão orgulhosamente transferida para meu filho e minha filha, foi sem dúvida uma dos maiores e mais estimulantes missões a que me entreguei.

Entre os tantos milhões de torcedores por todo o Brasil, quantos têm a oportunidade de se sentar na cadeira de presidente e verdadeiramente contribuir para o engrandecimento do Vasco? Pouquíssimos. Eu tive.

Mas, acreditem: cumprir essa missão cobra um preço alto. E eu estou pagando o meu.

Há três anos, deixei de ser exclusivamente Campello ou Alexandre, para ser os inúmeros nomes e adjetivos com que passei a ser chamado. Faz parte do jogo.

Durante o processo eleitoral, ouvimos muitas vezes a palavra ruptura, uma dessas expressões que de tão batidas, tão vulgarizadas acaba perdendo seu real significado. Pois eu vou dizer a você, vascaíno e vascaína, o que de fato é romper com o que precisa ser rompido.

Em três anos de mandato, não fiz outra coisa todos os dias se não detonar o sistema. Soa familiar, não? Já ouvimos a expressão no cinema, mas, posso dizer, com conhecimento de causa, que a realidade é ainda mais cruel. No Vasco da Gama, o sistema entrega a mão para salvar o braço.