Perseguições eletrizantes, dispositivos tecnológicos de ponta e um duelo com armas de fogo. “Thelma” poderia facilmente ser o próximo filme da série “Missão: Impossível”, estrelada por Tom Cruise, com um detalhe: a intérprete da protagonista, June Squibb, tem 94 anos.

Na fita, Squibb segura o touro pelos chifres depois que um fraudador a engana e rouba dela 10.000 dólares (49.397 reais, na cotação atual). O golpe é o estopim que a faz se lançar às ruas de Los Angeles pilotando uma scooter de mobilidade urbana e armada com uma antiga pistola, determinada a confrontar o ladrão.

Esta comédia de ação, que estreia nesta quinta-feira (18), na primeira noite do festival de Sundance, é o primeiro papel principal da atriz veterana, indicada ao Oscar há dez anos por “Nebraska”.

Como se sente ao se tornar o novo nome dos filmes de ação de Hollywood aos 94 anos?

“É maravilhoso! Adoro! Tom [Cruise] e eu!”, disse Squibb à AFP.

De fato, o filme é cheio de referências a Tom Cruise, cujos filmes Thelma adora ver com o neto.

A inspiração nos filmes “Missão: Impossível” é clara em cenas como quando uma missão ultrassecreta é narrada através de um aparelho auditivo.

O próprio Cruise aprovou o uso de imagens de seus filmes.

“Perguntei, ‘Ele está nos deixando fazer isto?’, e me disseram, ‘Claro. Ele adorou!'”, comentou Squibb.

Pessoalmente, a atriz também se inspirou no astro de Hollywood para filmar sem dublês muitas de suas cenas de ação.

“Diziam-me, ‘Devagar, June. Não vá tão rápido!'”, contou, referindo-se a uma perseguição em sua scooter, que incluía filmar uma colisão.

“Pensei, ‘Isso é bobo’, o atingi e fui embora por um corredor. Gravaram tudo.”

– “Perigo real” –

A premissa singular do filme e seus astros (incluindo o falecido Richard Roundtree e Malcolm McDowell) causaram barulho na edição deste ano da mostra de Sundance, trampolim para as melhores produções do cinema independente.

Mas tem uma mensagem pessoal para seu diretor, Josh Margolin, que batizou a produção em homenagem à sua avó, Thelma, de 103 anos.

Ela foi vítima de um fraudador, que a fez acreditar que ele havia sofrido um acidente de carro e que precisava de dinheiro para pagar a fiança.

Por sorte, a Thelma da vida real não pagou nada antes da família checar a informação, mas o incidente foi a inspiração de Margolin, que se perguntou o que teria acontecido se ela tivesse caído no golpe e depois quisesse fazer justiça com as próprias mãos, “o que não me estranharia, vindo dela!”, afirmou.

“Ver Tom Cruise saltar de um avião me assusta tanto quando ver minha avó pular em uma cama”, disse. “É algo menor, mas no momento da vida em que ela está, representa um perigo real e é terrível de presenciar”.

“Por isso, quis reduzir estes truques e explorar sua força, sua tenacidade e determinação”, acrescentou.

O filme também aborda como a sociedade frequentemente subestima a terceira idade e como um neto tenta superproteger a avó, mesmo quando ela “consegue dar conta de mais do que acredita”.

– “Não me sinto solitária” –

Embora a teimosa Thelma do filme goste de viver sozinha e esteja determinada a continuar assim, seu cúmplice, Ben (o último papel de Roundtree) se entregou aos cuidados de uma casa de repouso.

É algo que Squibb entende bem.

“Sempre gosto de trabalhar em algo que fale sobre a idade”, disse ela.

“Estou sozinha e não me sinto solitária. Realmente, não. É mais como ‘bom, posso fazer o que eu quiser!'”, acrescentou.

A atriz se mantém ativa. Entre seus projetos futuros está a série “American Horror Stories” e um filme dirigido por Scarlett Johansson, intitulado “Eleanor, Invisible”.

Depois de décadas em uma Hollywood conhecida por não querer empregar atrizes mais velhas, Squibb vê mudanças.

“E agradeço a Deus por isso!”, disse a atriz, que espera que seu próximo filme consiga um canal de distribuição em Sundance e chegue aos cinemas e às plataformas de streaming.

E quem sabe lhe renda mais uma indicação ao Oscar?

“Seria sensacional”, disse. “Foi divertido”.

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