Pouca gente foi às ruas hoje em todo o Brasil para protestar contra Bolsonaro, mas isso não significa que a maioria dos brasileiros está a favor do presidente. Pelo contrário. Os institutos de pesquisa mostram que o ex-capitão tem uma rejeição superior a 60%. Ora, então por que o movimento do Sete de Setembro foi maior do que o convocado pelo MBL e Vem Pra Rua na tarde deste domingo?

Em primeiro lugar, porque o ato do dia da Independência foi convocado durante dois meses pelo presidente e sua máquina pública, com gastos milionários da União para levar militantes bolsonaristas às ruas, inclusive com o patrocínio de empresários governistas que pagaram até R$ 100 a cada manifestante que fosse passear em Brasília ou em São Paulo naquele feriado.

Enquanto isso, o ato do MBL/Vem Pra Rua foi divulgado às pressas, sem muita organização e, o que é pior, com uma grande divisão entre as oposições. As esquerdas, sobretudo do PT e suas entidades satélites, como CUT, PCdoB, PSOL, PSB e tantas outras, se omitiram e até boicotaram o movimento deste domingo.

Os petistas até que tinham lá um pouco de razão para melar o protesto, porque o grupo organizador do movimento chegou a divulgar que a manifestação iria se posicionar tanto contra Bolsonaro, quanto contra Lula. Nem Lula e nem Bolsonaro, diziam os cartazes.

Era de se esperar, portanto, que haveria o boicote do PT. O erro do MBL foi imaginar que levaria multidões às ruas como fez em 2016 com o impeachment de Dilma. Ocorre que naquela oportunidade, o movimento contou com a adesão também dos bolsonaristas.

E, desta vez, por óbvio, foram apenas as pessoas diretamente ligadas ao grupo de Kim Kataguiri e outros parlamentares menos expressivos, que não são lá muito mobilizadores de multidões. Conseguiram a adesão de gente como Ciro Gomes, mas, convenhamos, o cearense também não é lá tão popular assim.

ortanto, o ato ocorrido neste domingo em 17 capitais foi quase que um fracasso. Mas, isso não significa que Bolsonaro saiu-se vitorioso. Pelo contrário. Ele foi o maior derrotado nesta semana. Juntou 100 mil pessoas na Avenida Paulista na terça-feira para ameaçar a democracia com um golpe, mas, dois dias depois, teve que colocar o rabinho entre as pernas, pedir desculpas ao STF e à Nação, recuando dos seus ataques às instituições.

Assim, se houve um vitorioso nestes últimos movimentos de rua foram os 220 milhões de brasileiros que podem comemorar viver em um país em que qualquer um dos lados políticos pode fazer suas manifestações: grandes ou pequenas, desde que com o respeito à liberdade de expressão, sem agressões ao processo democrático. Em tempo: Fora, Bolsonaro!