“Vocês queriam o melhor, vocês terão o melhor. A banda mais pesada do mundo, Kiss!” Foi a última vez que a lendária introdução da banda americana foi ouvida em um grande estádio brasileiro: 65 mil pessoas lotaram ontem o Allianz Parque, em São Paulo, para prestigiar a turnê “End of the Road” (Fim da Estrada), a última dos mascarados do Kiss. Como tudo que o grupo faz, o adeus foi em grande estilo.

Um show do Kiss não é apenas uma apresentação de quatro músicos de rock, mas uma festa. Mesmo na faixa dos 70 anos, os líderes Paul Stanley (vocal e guitarra) e Gene Simmons (vocal e baixo) estão em plena forma. Paul “voa” por sobre a plateia para cantar “Love Gun” e “I Was Made for Loving You” em uma plataforma no meio do estádio; Gene cospe fogo e, pouco depois, é elevado a mais de dez metros de altura para cantar “God of Thunder”, além de horrorizar a plateia cuspindo sangue durante o solo de baixo. Das fantasias às máscaras, o Kiss é uma mistura de filme de terror B com teatro Kabuki japonês, um culto ao imaginário transgressor do rock and roll – e uma aula de marketing.

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É uma pena vê-los se despedindo, mas não dá para dizer que faltou alguma coisa na carreira da banda. O início, nos anos 1970, não foi fácil: eram ridicularizados pela maquiagem, as botas de plataforma e os trajes exóticos. Aos poucos, ganharam fãs ardorosos, batizados de “Kiss Army” (Exército do Kiss), e conquistaram espaços cada vez maiores.

Com “Rock and Roll All Nite”, do terceiro disco, “Dressed to Kill”, viraram estrelas. A partir daí, entraram para o Olimpo do showbusiness e viveram décadas de sucesso, lotando estádios e tornando todos ao seu redor bilionários. As máscaras permitiram que os fundadores, Paul e Gene, substituíssem os outros dois membros quando fosse conveniente – os originais Ace Frehley (guitarra) e Peter Criss (bateria) dão lugar hoje a Tammy Thayer e Eric Singer. Como usam a mesma maquiagem que seus antecessores, (“homem do espaço” e “homem-gato”, respectivamente), a maior parte do público nem nota a diferença.

O fim das turnês abre um campo bastante amplo para os negócios do Kiss a partir de agora. É claro que Paul e Gene sabem que estão montados em uma montanha de ouro e não vão simplesmente abandonar o navio e acabar com a marca “Kiss”, que hoje estampa produtos que vão de bonecos a caixões (sim, é possível ser enterrado em um caixão do Kiss). As turnês podem ter acabado, mas, na minha opinião, o Kiss tem tudo para virar um show da Broadway ou um espetáculo itinerante (com outros músicos, vestidos e maquiados como eles). Isso significa que o legado da banda será eterno – e que a fortuna dos herdeiros está garantida para sempre.

Em relação ao show de São Paulo, o que dizer de um repertório que começa com “Detroit Rock City” e termina com “Rock and Roll All Nite”? O Kiss entrega tudo que o público pede – e é por isso que essa despedida, ainda que em tom de festa, soa tão triste. Hoje, domingo, (1/5), a banda se despede para valer do Brasil com uma apresentação na Arena Eurobike, em Ribeirão Preto, no interior paulista. Antes de São Paulo, eles já haviam passado pela Arena do Grêmio, em Porto Alegre (RS) e pela Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba (PR). Pode ser o “Fim da Estrada” para o Kiss, mas sua música continuará viva para sempre por uma simples razão: na mitologia do rock, os quatro personagens do Kiss continuarão a ser nossos super-heróis favoritos.

Setlist Allianz Parque – 30 de abril de 2022

Detroit Rock City
Shout It Out Loud
Deuce
War Machine
Heaven’s on Fire
I Love It Loud (Gene cospe fogo)
Say Yeah
Cold Gin
Solo de guitarra
(Tommy Thayer)
Lick It Up
Calling Dr. Love
Tears Are Falling
Psycho Circus
Solo de bateria
100,000 Years
Solo de baixo
God of Thunder
Love Gun
I Was Made for Lovin’ You
Black Diamond
Bis:
Beth
Do You Love Me
Rock and Roll All Nite