Se o Reino Unido quer um “Brexit duro”, as negociações de divórcio serão “duras”, advertiu nesta quinta-feira o presidente francês François Hollande em Bruxelas, onde a primeira-ministra britânica Theresa May participa de sua primeira cúpula europeia com o objetivo de acalmar os ânimos.

“Eu disse isso claramente. Theresa May quer um ‘Brexit duro’? Então as negociações serão duras”, advertiu Hollande em sua chegada à cúpula, em referência a uma saída do Reino Unido sem chegar a acordos com seus sócios europeus.

O entorno de Theresa May, que quer aproveitar o jantar com os líderes europeus para confirmar que planeja notificar oficialmente a saída até março, minimizou a resposta de Hollande.

“É uma negociação. Existe muita conversa”, disse uma fonte de Downing Street, que pediu anonimato.

O objetivo de May é tranquilizar seus sócios europeus, como garantiu em sua chegada à cúpula. “O Reino Unido se está deixando a UE, mas continuará desempenhando um papel completo até sua saída e será um forte e confiável parceiro antes de sairmos”.

Os líderes europeus elogiaram o fato de May ter previsto a saída para o início do mês; no entanto, rejeitam sua intenção de impôr controles migratórios aos cidadãos europeus, mantendo ao mesmo tempo “a máxima liberdade” de operar no mercado único do bloco.

Os líderes de vários países lhe lembraram que ambas as pretensões são incompartíveis, e advertiram Londres de que pagará um alto preço pelo Brexit.

May quer deixar claro a seus sócios que a decisão de sair da UE é irreversível, mas tentará convencê-los do interesse de conseguir “um processo suave, construtivo e ordenado” da saída, disse uma fonte de seu entorno.

A tensão e a incerteza sobre o futuro da economia britânica têm levado a libra a mínimos históricos.

Sondando outros países

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que almoçará na sexta-feira com May, afirmou que não haverá negociações antes que Londres notifique sua saída, ativando o Artigo 50 do Tratado de Lisboa.

A primeira-ministra britânica foi excluída da última cúpula da UE, em Bratislava, e um alto funcionário europeu afirmou que não haverá debate depois que May se dirigir aos outros líderes nesta quinta-feira, já que isso corresponde aos 27 sem o Reino Unido.

“Hoje não discutiremos sobre nossa futura negociação”, confirmou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk.

Mas a primeira-ministra, que assumiu em julho após a demissão de David Cameron, tentará aproveitar o encontro para sondar potenciais aliados.

May já visitou Dinamarca, França, Alemanha, Holanda e Espanha, e manterá reuniões bilaterais em Bruxelas com seus pares Romênia e Estônia.

“O Reino Unido buscará desesperadamente que outros Estados-membros definam que estão dispostos a permitir nas negociações do Brexit”, explicou o professor Iain Begg, da London School of Economics.

Em um sinal de complexidade das discussões que tem pela frente, May sinalizou na quarta-feira que poderia tentar estender o prazo das negociações, quando disse a seus deputados que levarão “dois anos ou mais”.

‘Ponha a casa em ordem’

O problema enfrentado por May é que nem sequer seu governo está de acordo em sua estratégia do Brexit, com uma parte de seus ministros advogando por uma ruptura sem concessões e outra buscando conservar o quanto for possível para proteger a economia.

Apesar do tom duro de May no congresso conservador, esta semana a imprensa informou que o governo poderia estar considerando pagar à UE para manter o acesso ao mercado europeu de indústrias-chave como o setor financeiro.

Sua estratégia poderá ser também afetada pelo o que a justiça decidir sobre a demanda para que o Parlamento tenha voz e voto na ativação do Artigo 50. A decisão da justiça é esperada para o final do ano.

Outra dor de cabeça para May é a Escócia, onde a maioria dos eleitores votaram por permanecer na UE e cujo governo regional, nacionalista, ameaça convocar um segundo referendo de independência se for obrigado a romper com Bruxelas.