Depois das declarações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, não há condição de que Jair Bolsonaro continue à frente da Presidência da República. Moro apresentou, serenamente, registre-se, vários crimes cometidos por Bolsonaro. Chegou até a lembrar que não assinou a exoneração do delegado Maurício Valeixo da direção geral da Polícia Federal – mais um crime, neste caso de falsidadede ideológica.

Nas últimas semanas – e o leitor de IstoÉ pôde acompanhar –, Bolsonaro atacou frontalmente a Constituição Federal. Fez questão de desmoralizar as instituições, incitar à subversão social, desorganizar a ação do Ministério da Saúde no combate ao coronavírus. Atacou sistematicamente a imprensa e, como um verdadeiro mantra, fez questão de jogar brasileiros contra brasileiros.

Moro lembrou que Bolsonaro queria usar a Polícia Federal para seus interesses pessoais. O temor era, especialmente, com a superintendência do Rio de Janeiro. Não por acaso. Lá a família Bolsonaro cometeu diversos crimes, de acordo com as denúncias publicadas na imprensa. Disse Moro que Bolsonaro queria saber das investigações sigilosas da PF.

Inacreditável!

Depois das revelações de Moro, resta a Bolsonaro dois caminhos: a renúncia ou tentar resistir (solitariamente, sem bases políticas e sociais) a um processo de impeachment. O Brasil não pode suportar a possibilidade de, até 31 de dezembro de 2021, ter à frente do Executivo Federal alguém acusado de vários crimes contra a República.

Se um processo de impeachment é penoso – apesar de que é possível apressá-lo –, muito pior será ter na Presidência da República um psicopata que conspira sistematicamente contra o Estado democrático de Direito. A sorte está lançada, diria o grande César. O Rubicão é o espelho d’água do Palácio do Planalto.

A República está em perigo. O Brasil está sob ameaça. Temos a maior crise sanitária da história republicana, a mais grave crise econômica dos últimos cem anos, um conflito entre os Poderes fomentado pelo Executivo e no horizonte a possibilidade da eclosão de uma comoção social jogando o País numa guerra civil.

Temos de interromper esse processo. Qual o caminho? A Constituição. É a arma dos democratas, dos republicanos. Basta cumpri-la. E sairemos desta gravíssima crise.