Uma mulher de maiô brilhante e adereços na cabeça samba ao lado de um rapaz de chapéu, sapato branco e colete igualmente glitterizado. Tudo acompanhado do soar de dois surdos, um ganzá, uma caixa, um repique e um tamborim. A cena mais lembra um ensaio de pré-carnaval, mas vem se repetindo quase diariamente em unidades paulistas de uma rede de academias, que firmou parceria com uma escola de samba para realizar “aulões”.

Se a relação da atividade física com o carnaval é consolidada entre integrantes de agremiações e celebridades, essa aproximação também está ganhando espaço entre aqueles que têm uma relação menos devota com a folia. Isso ocorre especialmente por meio de aulões de ritmos típicos dessa época do ano em escolas e academias de dança, mas também está na programação oficial paulistana.

É o caso da Academia Atitude Fitness, que costumava fazer aulas temáticas em fevereiro, mas decidiu ir um pouco além e fundou um bloco de carnaval há três anos. O Bloco Atitude desfila ao som de marchinhas e sambas-enredo populares no distrito do Ipiranga, na zona sul, acompanhado de ritmistas do Acadêmicos do Parque Bristol.

“Antes o bloco se chamava Marombeiros de Atitude, mas trocou. Marombeiro, marombeiro, não ia quase ninguém, um ou outro era mais forte. A maioria é mais magrinho, até porque a maioria do público da academia tem mais de 40 anos”, conta Edison Moreno, de 38 anos, idealizador do bloco e proprietário da Atitude. “Mas a ideia é atingir as pessoas do bairro, não só público de academia.”

A expectativa é de que o bloco reúna de 200 a 250 pessoas, com a realização de uma aula de fit dance durante o desfile. Um dos pontos altos deve ser o momento em que os músicos tocam a marchinha da agremiação, cuja letra começa assim: “Vai começar a diversão/ Espero que esteja aquecido/ Vamos fazer musculação/ E não quero ver ninguém dolorido/ Se joga no nosso bloco”.

A rede de academias Bio Ritmo também mantém uma parceria carnavalesca, no caso para 27 aulões temáticos com passistas e ritmistas da Rosas de Ouro. As coreografias e a música são elaboradas especialmente para a atividade, em datas de janeiro e fevereiro. A primeira metade da aula é exclusiva de samba instrumental, enquanto a outra é de axé e sambas-enredo cantados por um puxador, com direito a trenzinho, ciranda e quadrilha. Na que o Estado visitou, o local era decorado com máscaras, sombrinhas de frevo e outros ornamentos.

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Três professores ensinam os passos, acompanhados de passistas, alunos que vestiam abadás da academia sobre leggings, tops e outros trajes esportivos. Mais de 30 mulheres e três homens dançavam, enquanto eram fotografados e espiados por colegas curiosos. “Nossa, essa sala vai ficar pequena. Vou entrar só para filmar”, disse uma mulher, que acabou ficando. No começo, alguns sambavam com o celular na mão.

O professor de Educação Física Erich Soares, de 32 anos, explica que o aulão é uma forma divertida de fazer exercício físico. A atividade dura 45 minutos e pode queimar até 700 calorias de uma vez. A maioria dos participantes usava tênis de corrida, mas a professora de inglês Adriene Zigaid, de 48 anos, preferiu uma sandália com glitter e com salto de uns 10 centímetros. “Vim assim porque é uma aula especial, uma brincadeira, um divertimento”, comenta.

A designer de sobrancelhas Celma Soares, de 34 anos, aproveitou a atividade para fazer selfies e, também, aprendeu alguns passos para aproveitar os blocos de rua. “Carnaval agora é o mês inteiro”, diz. Já o comprador Thales Mora, de 32 anos, era um dos três únicos homens da aula. “Acho que tem pouco por vergonha e preconceito. Muitos morrem de vontade.”

Dança. Escolas de dança também têm investido em atividades temáticas, mesmo as que não têm relação com ritmos carnavalescos, como a Pé Descalço, especializada em forró. “Por meio da dança a gente pode gerar mais saúde e também trazer um pouco dessa alegria”, explica Amanda Mota, de 34 anos, uma das sócias. Ela conta que a escola já havia realizado uma aula de samba e um evento temático no carnaval passado e a alta procura fez com que dobrasse o número de eventos em 2020. Agora tem até baile mensal, com direito a concurso de fantasias.

Nas aulas especiais, por sua vez, o foco é ensinar coreografias de hits que costumam fazer sucesso nesta época, como axé e funk. “Às vezes (durante o carnaval), as músicas tocam e as pessoas não sabem muito o que fazer. Algumas pessoas não têm tanta facilidade, (a aula) ajuda a ganhar um pouquinho de coordenação”, diz Amanda. “Também ajuda a socializar, a pessoa perde a vergonha de samba, até por ser um ambiente de escola, todo mundo quer aprender e entende que ninguém dança desde que nasceu.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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