Em silêncio e no café: a articulação da oposição para derrotar governo na CPI do INSS

Governo previa governistas na presidência e relatoria da comissão, mas foi surpreendido com derrota e já se movimenta para evitar vexame na CPMI

INSS oposição
Deputados bolsonaristas comemoram vitória de Carlos Viana (Podemos-MG) para presidir CPMI do INSS Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

A derrota do governo federal na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS foi construída em poucas horas, com apenas seis deputados e poucos senadores, e meticulosamente em silêncio para não vazar absolutamente nada da articulação da oposição. Tudo para reverter o quadro da comissão, favorável ao Palácio do Planalto até às 11h desta quarta-feira, 20.

Há mais de uma semana, o governo fechou um acordo pelas indicações dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Enquanto Alcolumbre indicou o senador Omar Aziz (PSD-AM) para a presidência do colegiado, Motta optou por Ricardo Ayres (Republicanos-TO). Ambos, inclusive, se reuniram para debater o plano de trabalho, mas o roteiro mudaria menos de 24 horas depois do último encontro.

Na terça, 19, por volta de 20h, cinco deputados integrantes da comissão se reuniram em uma sala do gabinete na liderança do PL na Câmara para conversar. Entre petiscos e cafés, os parlamentares armavam estratégias para atingir o governo no colegiado, mesmo desfavorecidos numericamente.

No meio do debate, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO) passou a articular a derrubada de Omar Aziz da presidência da CPMI. A ideia logo teve a adesão dos demais deputados presentes no encontro: Bia Kicis (PL-DF), Coronel Fernanda (PL-MT), Fernando Rodolfo (PL-PE) e Zé Trovão (PL-SC). Minutos depois, o líder do partido na Casa, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), bancou a ideia e passou a articular com os senadores.

Do outro lado, no Salão Azul, senadores passaram a articular de gabinete em gabinete. De pronto, todos os parlamentares da oposição aderiram a ideia logo nas primeiras horas da manhã. Faltava apenas a contagem dos votos.

Nos bastidores, deputados apostavam na falta de outros colegas para conseguir emplacar o voto de suplentes. Uma das faltantes foi a deputada Adriana Ventura (Novo-SP), liberando espaço para que um parlamentar do PL pudesse dar mais um voto. Outros que deixaram os votos para o PL foram os deputados Rafael Brito (MDB-AL) e Romero Rodrigues (Podemos-PB).

Com o combo completo, bolsonaristas alinharam o nome do senador Carlos Viana (Podemos-MG) para a presidência da comissão, que de pronto emplacou o nome de Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), um bolsonarista de primeira linha. A derrota deixou governistas perplexos e sem entender os rumos que a CPMI deve tomar.

Minutos depois da eleição do colegiado, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, convocou uma reunião com aliados para definir os próximos passos. Irritada, Gleisi pressionou líderes do governo e do Centrão para encontrar soluções para não atingir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Planalto. Uma das ideias é evitar ao máximo a convocação do irmão do petista, Frei Chico, vice-presidente de uma das entidades investigadas nos desvios de valores dos aposentados.

Já o presidente da República se reuniu com Hugo Motta, ambos derrotados na CPMI. Conversaram no Alvorada por cerca de 1h e evitaram comentários públicos sobre a comissão.

Para evitar o vexame na comissão, aliados do Planalto tentam emplacar a vice-presidência da comissão para, ao menos, reduzir os danos e manter alguma influência no colegiado. Quando o presidente se ausenta, o vice é quem assume os trabalhos e pode pautar ou derrubar a pauta do dia.