Em seu 1º documentário, cineasta paulistana questiona verticalização no bairro da Pompeia

Bar do Gê
Bar do Gê Foto: Arthur Gazeta/Divulgação

A ideia nasceu quando a diretora estava morando na rua Cuxiponês, próximo ao bairro da Vila Anglo e percebeu em sua rua o levantamento de um prédio que tinha a frente na Av. Pompeia e sua traseira na rua Cuxiponês. A cineasta Patrícia Lobo percebeu ao decorrer dos dias muitas torres sendo levantadas e percebeu que o bairro da Pompeia e seus arredores (Perdizes, Vila Anglo e Vila Romana), exatamente nessa delimitação, estavam com mais de quatorze torres em construção. O documentário intitulado de RESISTENTES, com roteiro e direção de Patrícia Lobo, está previsto para estrear no primeiro semestre de 2024.

A diretora tenta resgatar a memória dos bairros até o processo atual de verticalização com personagens comuns que ainda resistem. Em sua maioria são donos de botecos e moradores nascidos na delimitação dos bairros abordados. Entre os personagens estão o bar da Dona Iria que acabou de completar 41 anos de resistência. Na fachada do boteco ainda existe uns letreiros escritos na primeira metade do século 20, local que era uma panificadora. O chão do boteco mantem o charme do piso original, mesmo gasto resultado de décadas e mais décadas de existência.

Dona Iria, 73 anos, uma senhora Portuguesa que trabalha até hoje com seus filhos no local. Entre os outros personagens estão mais 2 moradores da região Carmen Lucia, mulher preta, 62 anos, mora na casa herdada pelo avô, que se não foi o primeiro foi o segundo morador juntamente de sua esposa a conquistar uma casa no início da segunda metade do século 20 na rua Fábia, no bairro da Vila Romana.

Também tem o Edmundo Pascoal, morador da Vila Anglo, homem preto, 44 anos, viveu 7 anos preso, adicto a cocaína. Foi do crime ao jornalismo, tem uma história de superação e vive até hoje no bairro da Vila Anglo. Também têm mais 8 personagens donos de botecos resistentes até hoje: Vânia – Bar Grandes Amigos, Vila Anglo; Biguá e Lucas – Bar do Biguá, Vila Anglo; Toninho – Adega Bar e Mercearia Santo Antônio; Valmir – Bar Pompeu & Pompeia, Pompeia; Gabin e Gabriela – Casa do Norte do seu Gabin, Perdizes; Gê – Bar do Pompeia, Perdizes; Bianca – Boteco Tiquim, Perdizes e  Elisa – Requinte Vinho e Bar, Pompeia.

Contamos com mais três participações no ponto de vista em que remetem olhares técnicos com Marcia Crespo, Marcel Steiner e Vitor Campanario e no ponto de vista político o documentário quer conversar com Ricardo Nunes, atual prefeito da cidade de São Paulo.

Cinema autoral 

A cineasta paulistana Patrícia Lobo, 40 anos, é diretora, roteirista, produtora e jornalista, e está interessada no cinema autoral como forma de expressão de suas próprias experiências, questionando o sistema e suas instituições mais conservadoras.

Em 2009, lançou a pLobo produções com foco inicial no segmento do design, em paralelo à sua atuação no mercado editorial. Cinco anos depois, assinava o roteiro e a direção do seu primeiro curta-metragem, “20 anos, orquídea”(2014), exibido em São Paulo e no IndieLisboa – Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa (Portugal).

Com isso, ampliou-se o objetivo da produtora para o mercado audiovisual. Em 2015, lançou o curta, “Um bom lugar para se sentir invisível”, com exibições em festivais internacionais e nacionais como o 39º Festival de curtas-metragens de Grenoble, França, INTERFILM – 31º Festival internacional de curtas-metragens de Berlim, na Alemanha, MuBE – Museu Brasileiro da Escultura e Cinemateca Brasileira, ambos em São Paulo.

 Na sequência, a cineasta realizou mais um curta-metragem chamado “Não trocaria minha mãe por nada neste mundo”(2017), com Bruno Giordano, e entra na fase de captação de recursos para o seu primeiro longa-metragem, “Um lugar aqui dentro”, aprovado pela Ancine mas que não foi produzido. Em outubro de 2018, filmou o curta “O Palhaço, Deserto”, que foi inspiração para o longa-metragem de mesmo nome, que teve lançamento oficial no Marché Du Film, Festival de Cannes 2021. Atualmente em produção, com o documentário “Resistentes”.

Dirigiu o clipe do artis­ta brasileiro Lucas Santtana, “Streets Bloom” (2017) que conquistou críticas positivas na impressa internacional ao trabalhar uma narrativa a partir de imagens da cidade de São Paulo captadas com drone.

Publicou dois livros: “À margem” e “Amar é Intolerável”, fez parte de uma série de produções teatrais e também participou, em 2018 e 2019, da comissão de júri e na direçãoartística do No Ar Drone Film Fest Brazil. Sua carreira se desenvolveu no mercado editorial, passando pelas principais editoras brasileiras. Estudou Comunicação Social e é mestra em Artes pela UNESP.