SÃO PAULO, 13 OUT (ANSA) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da comunidade internacional uma postura de indignação diante da fome e da pobreza e pediu ações articuladas, incluindo a inclusão dos pobres nos orçamentos dos países.
O apelo foi feito nesta segunda-feira (13), durante um discurso na 2ª Reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que acontece em Roma, capital da Itália, e é copresidida por Brasil e Espanha.
Segundo o petista, o mundo precisa se indignar com o fato de que 670 milhões de pessoas ainda passam fome no planeta, e destacou que é essencial um trabalho conjunto entre todos os países.
“O grande trabalho que temos que fazer é criar junto à humanidade a indignação. A palavra-chave é levar a humanidade a se indignar contra a fome. Num mundo que produz alimento suficiente, que não tem problema de produção, não há explicação para 670 milhões de pessoas ainda não terem o que comer”, afirmou.
Lula explicou que “outra chave para a questão é o financiamento adequado e consistente”, principalmente porque “sem recursos financeiros não haverá transformação”. Ele lembrou que, no ano passado, “a ajuda oficial ao desenvolvimento registrou queda de 23% em relação aos níveis pré-pandêmicos”.
De acordo com ele, essa retração atinge em cheio os países mais pobres e endividados, sobretudo na África, onde a insegurança alimentar cresceu de forma alarmante.
“Se não agirmos com urgência, em 2030 ainda teremos quase 9% da população mundial vivendo em situação de extrema pobreza”, alertou.
Para Lula, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza ? iniciativa brasileira lançada em novembro de 2024, no Rio de Janeiro, durante a Cúpula do G20 ? será cada vez mais eficiente à medida que quatro pontos de sua fórmula central forem seguidos: São eles: reunir políticas públicas que deram certo; articular essas políticas com recursos e conhecimento; apostar em cooperação sem condicionalidades; garantir que a implementação seja liderada pelos países receptores.
“Vivemos em um mundo hiperconectado, com inteligência artificial, avanços científicos e até planos de habitar a Lua, mas a persistência da fome e da pobreza são as provas mais dolorosas de que falhamos como comunidade global”, declarou.
Lula também fez um apelo aos bancos multilaterais e aos países doadores, destacando que os recursos disponíveis devem ser mobilizados para “enfrentar os desafios reais da humanidade”.
“É hora de colocar os pobres no orçamento. A inclusão social não pode ser apenas uma promessa ? ela precisa estar refletida na arquitetura fiscal, nos investimentos públicos e nos planos de transformação produtiva”, afirmou.
O presidente ainda ressaltou que “o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome da FAO por conta de políticas integradas de transferência de renda, fortalecimento da agricultura familiar, merenda escolar, geração de empregos e aumento do salário mínimo”.
Por fim, mencionou que, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em novembro, em Belém (PA), pretende adotar uma “Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima”.
“A segurança alimentar precisa estar no centro da ação climática. As Contribuições Nacionalmente Determinadas precisam incluir proteção social, resiliência do pequeno produtor e soluções que gerem renda e preservem a biodiversidade. Somente um novo modelo de desenvolvimento justo e sustentável pode assegurar um futuro para as próximas gerações”, salientou.
Lula desembarcou em Roma no último domingo (12) para participar da abertura do Fórum Mundial da Alimentação 2025 ? principal evento anual da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Ele aproveitou a visita para se reunir com o papa Leão XIV. (ANSA).