Era uma vez um reino tropical onde a Natureza foi generosa.

Lindas praias, clima ameno, vegetação imponente e um povo amistoso.

Apesar desse cenário idílico, o reino tropical era refém de uma maldição.

Por mais que famílias reais se revezassem no poder, sempre com propostas que despertavam a esperança dos súditos, não tinha jeito do reino acumular riquezas.

Não havia toque de Midas que resolvesse.

Verdade seja dita, o povo não se abalava. Diziam que povo do reino tropical não desiste nunca. A malandragem era sinônimo de resiliência e mesmo com o histórico de altos e baixos, a capacidade de manter a alegria, a musicalidade, o tempero diante das adversidades era invejada em todo mundo.

Popularizaram até um “jeitinho do reino” para encontrar saídas às condições econômicas adversas.

E nada do país crescer.

Gerações de especialistas das mais diversas escolas de bruxaria se sucederam tentando transformar as dissonâncias sociais e econômicas do reinado em harmoniosas melodias.

Por algum tempo, alguns feitiços pareceram promissores, mas em pouco tempo o reinado estaria lamentando mais um fiasco.

Essa tradição de feitiçaria econômica do reino tornou-se farta em histórias de incomparável criatividade e algumas se tornaram lendárias.

Quem pode esquecer, por exemplo, do monarca que inventou uma máquina do tempo para que o reino avançasse 50 anos em cinco?

Infelizmente, o tal rei não levou em conta que as dívidas também se acumulariam na mesma proporção.

Um problema menor, pois a tradição desse reino manda que dividas sejam sempre um problema para o futuro, nunca para o presente.

Quando o tempo voltou a sua velocidade normal de 365 dias por ano, surgiu um opulento ministro que com muita sagacidade criou o encanto do “Grande Milagre da Economia” baseado na magia de fazer surgir dinheiro do ar.

Mega-inflação? Detalhe para o futuro.

Sai um rei, entra outro, que agora transforma o povo em “Fiscais do Reino”.

Mais uma invenção muito criativa, pois nada melhor do que controlar a economia exatamente com quem gasta dinheiro, não é mesmo?

Só não se considerou o fato de quem gasta dinheiro não necessariamente sabe administrá-lo e, eventualmente, quem gasta demais acumula dívidas que, como você já aprendeu, nesse reino são um problema só para o próximo rei.

E ele veio jovem e boa pinta, alguns dizem que diretamente de Hogwartz, porque se um rei fez surgir dinheiro do nada. Nesse caso fez desaparecer do bolso e das contas de todo o reino, nobres e plebeus.

Ideia ótima. Se o problema é dinheiro, vamos acabar com ele, certo?

Errado.

Foi obviamente expulso do reino.

Rei morto, digo, expulso, rei posto.

Entra em cena um ministro matador de dragões, que aclamado pelo povo, foi coroado como novo rei.

Então, no reino tropical, por alguns anos pareceu que a maldição havia acabado.

Para melhorar, chega um novo rei, que cria o “Bolsa Jeitinho”, para que o dinheiro que agora sobrava nos cofres do palácio real, fosse distribuído para a população.

População que, obviamente, também incluía políticos que, de suas confortáveis cadeiras, recebiam as propostas do rei com a certeza que poderiam se beneficiar.

Para esses nobres, o novo rei era uma espécie de Robin Hood, que tirava dinheiro dos ricos para distribuir para os mais ricos.

Não deu certo, claro, e o rei foi enviado para a masmorra do castelo.

Anos duros se seguiram com um maligno rei, o mais terrível de todos, que ao ganhar o poder, devastou o reino com sua crueldade.

Mas o destino prega peças e o velho rei esquecido na masmorra é alçado ao poder pelo povo, com mais uma proposta quixotesca que promete crescimento, dinheiro no bolso e poucos impostos.

Os súditos, claro, acreditam. E o reino tropical segue sua jornada, rindo e chorando, enquanto as propostas econômicas continuam provando que imaginação, esperança e polêmica não têm limites.

Porque, nesse reino, até mesmo as propostas mais malucas servem de trilha sonora para o povo sonhar.