A Polícia Federal deflagrou na manhã desta quinta-feira, 8, a Operação Tempus Veritatis, que apura tentativa de golpe de Estado e teve como um dos alvos o General Augusto Heleno. Durante as investigações, a corporação teve acesso ao conteúdo de uma reunião do então ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) com Jair Bolsonaro (PL), em julho de 2022, na qual defendeu que o governo “virasse a mesa” antes das eleições para garantir a reeleição de Bolsonaro.

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“Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições “, disse Augusto Heleno na reunião.

“Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso pra mim é muito claro”, continuou o então ministro do GSI.

A descrição da reunião entre Augusto Heleno e Jair Bolsonaro encontra-se na decisão assinada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes que autorizou a operação da PF, à qual a ISTOÉ teve acesso.

Investigação

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um dos alvos alvos da operação deflagrada pela PF. Segundo a determinação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, Bolsonaro deve entregar o passaporte e não fazer contato com os demais investigados, que são aliados políticos do ex-mandatário.

Por meio das redes sociais, o advogado Fabio Wajngarten informou que o ex-presidente “entregará o passaporte às autoridades competentes”. “[Bolsonaro] já determinou que seu auxiliar direto, que foi alvo da mesma decisão, que se encontrava em Mambucaba, retorne para sua casa em Brasília, atendendo a ordem de não manter contato com os demais investigados”, completou.

Outro advogado de Bolsonaro, Paulo Amador, informou que o passaporte ainda será entregue dentro das 24 horas previstas no mandado. O documento estaria em Brasília, e não em Mambucaba com o ex-presidente.

De acordo a PF, a Operação Tempus Veritatis apura uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, para obter vantagem de natureza política com a manutenção de Bolsonaro no poder.

Segundo a corporação, “as apurações apontam que o grupo investigado se dividiu em núcleos de atuação para disseminar a ocorrência de fraude nas eleições presidenciais de 2022, antes mesmo da realização do pleito, de modo a viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital”.

“O primeiro eixo consistiu na construção e propagação da versão de fraude nas Eleições de 2022, por meio da disseminação falaciosa de vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu mesmo após os resultados do segundo turno do pleito em 2022”, diz a PF em nota.

As investigações da corporação ainda apontam que um segundo eixo de atuação “consistiu na prática de atos para subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível”.

O Exército Brasileiro acompanha o cumprimento de alguns mandados, em apoio à Polícia Federal. “Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de organização criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado”, conclui a nota da PF.