Após trocas de sinal ao longo do dia, o dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira 19, véspera de decisão de política monetária aqui e nos EUA, cotado a R$ 5,0297, avanço 0,08%. Pela manhã, a divisa até ensaiou uma alta mais firme, com máxima a R$ 5,0549, mas perdeu força no início da tarde com relatos de entrada de fluxo comercial e realização de lucros. A mínima, a R$ 5,0170, veio na segunda etapa de negócios, em meio a recuo das taxas dos Treasuries e máximas do Ibovespa.

O fato de a taxa de câmbio permanecer acima de R$ 5,00 sugere que os investidores mantêm uma postura cautelosa à espera, principalmente, dos sinais do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) sobre a condução da política monetária neste ano. É dado como certo que o BC norte-americano manterá a taxa básica no intervalo entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam às projeções dos dirigentes contidas no chamado gráfico de pontos – que da última vez trouxe previsão majoritária de três cortes de juros nos EUA neste ano – e à entrevista do chairman Jerome Powell após a decisão. Por ora, as expectativas ainda são de redução da taxa básica em 75 pontos-base neste ano.

Nos últimos dias, as preocupações com a inflação americana, após as leituras dos índices de preços ao consumidor e ao atacado divulgadas na semana passada, levaram a uma redução das chances de corte de juros pelo Fed em junho da casa de 70% para pouco mais de 50%. Esse rearranjo provocou avanço das taxas dos Treasuries e uma valorização global da moeda americana, em especial na comparação com divisas emergentes.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que o principal fator por trás do escorregão recente do real é o fortalecimento global da moeda americana, sobretudo após a leitura acima das expectativas do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) em janeiro, divulgada na última quinta-feira, 14.

“A questão é que aqui dentro não vemos eventos para neutralizar parte desse efeito externo. Pelo contrário. O ambiente político está muito ruidoso”, afirma Damico, lembrando os questionamentos de intervenção política na gestão da Petrobras após a retenção de dividendos extraordinários. “Temos também uma queda de popularidade do presidente Lula, que pode levar a ações populistas e implicar mais gastos.”

A economista da Armor observa que, nos últimos dias, o real teve desempenho relativo inferior a de seus principais pares, embora os fundamentos estejam melhores. Ela cita os resultados bons balança comercial e arrecadação federal mais forte neste início do ano, que pode levar o governo a postergar a discussão da revisão da meta de resultado primário. “O problema é que esse ruído político tem feito preço na moeda”, afirma.

No exterior, o índice DXY operou em alta ao longo do dia, com máxima pouco acima da linha dos 104,000 pontos, graças, sobretudo, à alta de mais de 1% em relação ao iene. Embora o Banco do Japão tenha elevado a taxa de juros pela primeira vez em 17 anos e abandonado o controle da curva, o BoJ reiterou que as condições financeiras vão seguir acomodatícias.