Após se reunir em Pequim com o líder chinês Xi Jinping nesta terça-feira, 13, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enalteceu as relações sino-brasileiras e fez criticas ao protecionismo e às guerra comerciais, pedindo “reformas profundas” na ordem internacional.
“Nos últimos meses, o mundo se tornou mais imprevisível, mais instável e mais fragmentado. China e Brasil estão determinados a unir suas vozes contra o unilateralismo e o protecionismo”, disse Lula, completando que a boa relação entre o Brasil e a China “nunca foi tão necessária”.
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“Guerras comerciais não têm vencedores. Elas elevam os preços, deprimem as economias e corroem a renda dos mais vulneráveis em todos os países. O presidente Xi Jinping e eu defendemos um comércio justo e baseado nas regras da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, afirmou.
“Não é exagero dizer que, apesar dos mais de 15 mil quilômetros que nos separam, nunca estivemos tão próximos”, disse o presidente sobre a relação entre Brasília e Pequim.
O encontro entre Xi e Lula ocorreu às margens de uma cúpula entre a China e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) – da qual participaram líderes de diversos países.
O presidente chinês também ressaltou a importância da relações bilaterais “estratégicas”, e destacou que Brasil e China “vão defender juntos o livre comércio e o sistema multilateral”.
As críticas de Lula e Xi à guerra comercial acontecem um dia após Estados Unidos e China anunciarem trégua de 90 dias nos aumentos de tarifas e sobretaxas, após a crise deflagrada pelo governo dos EUA sob Donald Trump.
Nesta segunda-feira, Pequim e Washington acordaram uma redução significativa nas tensões comerciais, que haviam se agravado nas últimas semanas. Os EUA haviam aumentado os tributos sobre os produtos chineses para 145% – incluindo uma tarifa punitiva de 20% adicionada para combater as importações de fentanil para os EUA. Pequim retaliou com a imposição de tarifas de 125% sobre as importações americanas.
Guerra em Gaza e na Ucrânia
Os dois presidentes também fizeram críticas à guerra na Faixa de Gaza e pediram uma solução para o conflito na Ucrânia.
“Não haverá paz sem um Estado da Palestina independente e viável vivendo lado a lado com o Estado de Israel. Somente uma ONU reformada poderá cumprir ideais de paz, direitos humanos consagrados em 1945”, afirmou o brasileiro.
Após a reunião, Brasil e China também divulgaram uma nota conjunta sobre a guerra na Ucrânia na qual se oferecem para ajudar no diálogo para as negociações de paz.
“Os entendimentos comuns entre Brasil e China para uma resolução política para crise na Ucrânia oferecem base para um diálogo abrangente que permita o retorno da paz à Europa”, disse Lula.
O governo Lula tentou, desde seu início, influenciar numa solução para a guerra na Ucrânia, mas não obteve sucesso. Sua proximidade com o presidente russo, Vladimir Putin, e declarações do presidente brasileiro sobre a dinâmica do conflito fizeram com que os ucranianos rejeitassem a oferta de mediação.
Brasil quer ser “alternativa aos EUA” para Pequim
Em outra nota, na qual foram reforçados os pontos dos discurso dos dois líderes após o encontro, o Brasil deixou claro que “adere firmemente ao princípio de uma só China” e “reconhece que só existe uma China no mundo e que Taiwan é uma parte inseparável do território chinês”.
Esse princípio é tipo por Pequim como inegociável, em meio às tensões com a província autônoma de Taiwan e em relação ao expansionismo chinês no Mar do Sul da China.
Representantes do Brasil e da China assinaram 20 protocolos e memorandos para o fechamento de acordos em áreas como ciência e tecnologia, agricultura e estratégia aeroespacial.
O governo brasileiro anunciou investimentos chineses no país de R$ 27 bilhões em diversas áreas. A China é atualmente o principal parceiro comercial do Brasil, e o governo brasileiro quer aumentar as exportações para o país asiático.
Representantes da classe política e empresarial presentes no encontro avaliam que o Brasil poderia oferecer alternativas a alguns dos produtos americanos importados pela China.
Este foi o terceiro encontro entre Lula e Xi Jinping ocorrido durante o terceiro mandato do brasileiro, iniciado em janeiro de 2023, e o segundo a ocorrer na China.