O fotógrafo americano Steve McCurry conquistou fama há quase 40 anos com a imagem de uma jovem afegã de olhos verdes que até hoje ilustra a tragédia do país.

McCurry apresentou esta semana em Paris uma grande exposição antológica de seu trabalho no Museu Maillol e ao ser entrevistado pela AFP mostrou que mantém intacta sua indignação.

“É insuportável”, disse ao mostrar em seu celular a imagem que “um amigo de Cabul” acabara de enviar. A foto mostra uma placa de madeira na qual alguém escreveu “rim à venda”.

“Quando esse pesadelo vai acabar? Eu realmente gostaria de fazer um apelo [aos grandes líderes mundiais] por humanidade e compaixão para com os afegãos e para esquecer os talibãs” que voltaram ao poder.

Sharbat Gula tinha 12 anos quando posou para McCurry. O fotógrafo a reencontrou em 2002, quando a refugiada tinha acabado de completar 30 anos. Nessa nova imagem, ela apareceu com um rosto resignado e envelhecido.

“A vida de Sharbat foi muito difícil desde o início: ela teve que fugir de sua cidade, de seu país, quando era muito jovem, e viver como refugiada no Paquistão. Ela foi expulsa, presa, antes de retornar ao Afeganistão. Ela perdeu seu marido, sua filha, e sua vida foi extremamente dura, como para milhões de afegãos, muitos dos quais morreram ou tiveram que lutar para sobreviver”, explica o fotógrafo à AFP.

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“É uma questão de vida ou morte, temos que agir e ajudar essas pessoas”, insiste o fotógrafo, que criou uma espécie de programa para jovens afegãs aprenderem a fotografar.

Sharbat Gula foi levada para a Itália no final de novembro.

– Jornalistas no alvo –

Steve McCurry tinha pouco mais de 20 anos em 1979 quando cruzou a fronteira Paquistão-Afeganistão disfarçado de pashtun (um dos grupos étnicos afegãos). Os soviéticos ainda não haviam invadido o país, que já sofria com a violência.

McCurry fotografou o conflito e, para tirar os filmes do país, costurou-os em suas roupas. Com suas imagens, ficou reconhecido internacionalmente e, em 1986, entrou para a renomada agência fotográfica Magnum.

“Hoje os jornalistas estão muito mais expostos. Sequestros, decapitações, esse tipo de coisa é comum, algo que não acontecia antes”, afirmou à AFP.

A pandemia também afetou o trabalho de McCurry já que viajar tornou-se extremamente complicado.

“Mas todos [os seres humanos] são fundamentalmente iguais, compartilhamos o mesmo planeta e temos que nos abrir para os outros, não há outra opção”, questiona McCurry.


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