Por Ricardo Brito

BRASÍLIA (Reuters) – Aliados do governo passaram a afirmar nesta quinta-feira que o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, foi acionado pelo presidente Jair Bolsonaro para verificar suspeitas de irregularidades na contratação da vacina indiana Covaxin, numa nova estratégia para lidar com o caso que trouxe Bolsonaro para o centro das investigações da CPI da Covid do Senado.

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Até a véspera, a linha de atuação do governo era de desqualificar as declarações feitas pelo deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, que afirmaram ter levado no dia 20 de março ao próprio Bolsonaro indícios de irregularidades que pairavam em torno da compra da Covaxin. Àquela altura não tinha havido qualquer menção a Eduardo Pazuello.

Em pronunciamento na quarta, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, disse que determinaria à Polícia Federal que investigasse os dois por denunciação caluniosa –acionar indevidamente a máquina do Estado para apurar algo que é sabido não constituir crime.

A estratégia mudou após reunião nesta manhã de senadores governistas da CPI com ministros do governo no Palácio do Planalto. Os aliados passaram a dizer que Bolsonaro acionou Pazuello para analisar as suspeitas, mas não se constatou qualquer irregularidade.

“Bolsonaro falou com Pazuello para verificar e como não tinha nada de errado, a coisa continuou”, disse a jornalistas o senador Jorginho Mello (PL-SC), um dos que participaram do encontro.

Em entrevista à Rádio Bandeirantes esta manhã, Onyx foi na mesma linha e disse que, após ter sido comunicado pelos irmãos Miranda, Bolsonaro acionou Pazuello para analisar a questão da vacina indiana.

Mesmo sem haver o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o governo assinou em fevereiro um contrato de 1,6 bilhão de reais para a compra de 20 milhões de doses da Covaxin, imunizante desenvolvido pelo laboratório Bharat Biotech.

Os irmãos Miranda, que depõem à CPI na sexta-feira, dizem que havia pressão para que se liberasse o imunizante. A comissão de inquérito e o Ministério Público Federal apuram suspeitas de eventual favorecimento para a aquisição dessa vacina, que teria um preço mais elevado do que outras já em uso em outros países e no Brasil.

Governistas também têm ressaltado que, até o momento, não houve qualquer pagamento para a aquisição dessa vacina.

Em discurso nesta quinta, durante uma solenidade de inauguração de uma barragem no Rio Grande do Norte, o presidente Jair Bolsonaro procurou minimizar o caso Covaxin.

“Não adianta inventar vacina, porque não recebemos uma dose sequer dessa que entrou na ordem do dia da imprensa ontem (quarta)”, disse ele.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também procurou mostrar tranquilidade sobre o tema, ao mesmo tempo que repetiu estar trabalhando para garantir uma maior oferta de vacinas aos brasileiros.

“Preocupação do Ministério da Saúde com esse assunto Covaxin é zero. Zero!”, garantiu Queiroga a jornalistas.

 

(Edição de Alexandre Caverni)

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