01/11/2024 - 17:13
BRASÍLIA (Reuters) -O governo brasileiro criticou nesta sexta-feira, em nota oficial, o que descreveu como “escaladas retóricas” na crise diplomática com a Venezuela, com publicações e declarações de autoridades venezuelenas classificadas como ofensivas pela diplomacia brasileira.
“O governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais”, disse o Itamaraty em nota à imprensa.
“A opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e o seu povo.”
A relação entre Brasil e Venezuela piorou consideravelmente nos últimos dias, especialmente depois do veto brasileiro à entrada do país no Brics. Na segunda-feira, em fala à mídia local, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, acusou o Itamaraty de agir contra seu país em conluio com os Estados Unidos.
Na terça-feira, depois que o assessor especial da Presidência do Brasil, Celso Amorim, confirmou que o veto foi uma decisão de governo, a Venezuela aumentou o tom mais uma vez. O presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, propôs que fosse aprovada uma moção declarando Amorim persona non grata no país, enquanto a chancelaria venezuelana chamou o embaixador no Brasil, Manuel Vadell, de volta a Caracas para consultas, e convocou o encarregado de negócios do Brasil na embaixada, Breno Herman, para conversas.
Na linguagem diplomática, o movimento é uma demonstração forte de desagrado em relação a atuação de outro país.
O Brasil, no entanto, até aqui havia optado pelo silêncio. A mudança de decisão veio com uma postagem em tom de ameaça feita pela Polícia Nacional da Venezuela em suas redes sociais, segundo uma fonte diplomática.
Com uma bandeira brasileira estilizada ao fundo e um perfil de um homem que aparenta ser o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a postagem dizia: “Aqueles que se metem com a Venezuela se dão mal”, marcando o ministro do Interior do país, Diosdado Cabello.
A decisão de responder foi tomada nesta sexta-feira, em uma reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o presidente Lula, quando se avaliou que limites foram cruzados, contou a fonte diplomática brasileira.
A relação entre Brasil e Venezuela vem se deteriorando desde as polêmicas eleições no país vizinho, quando o governo brasileiro passou a cobrar a divulgação das atas do pleito, o que não aconteceu até hoje. Lula, então, decidiu não reconhecer o resultado das eleições, nas quais Maduro foi declarado reeleito.
(Reportagem de Lisandra ParaguassuEdição de Maria Carolina Marcello, Alexandre Caverni e Pedro Fonseca)