Sou judeu não praticante. Ou melhor, não sou religioso. Para falar bem a verdade, não acredito muito em religião. Apenas sou profundamente ligado aos valores do meu povo e tenho enorme apego pela história dos meus antepassados. Ainda assim, minha ligação – e prática – com o judaísmo se dá através das tradições religiosas, que me trazem grande prazer e regozijo quando as pratico junto a amigos e família.

Sou casado com uma cristã e minha sogra é praticamente uma madre, de tão atuante e devota. Por isso conheço de perto outra prática religiosa, bem como convivi de perto, durante anos, num passado remoto, com o espiritismo. Assim posso me considerar um pluralista em termos de fé, ou melhor, de não-fé, pois, como disse anteriormente, não pratico nem acredito muito em religiões, quaisquer que sejam.

Por outro lado, tenho grande respeito pela alheia. Considero afortunada a pessoa que encontra nela (fé), conforto, esperança, acolhimento, explicação, razão. Tenho certeza que essas pessoas são, como direi?, emocionalmente e psicologicamente menos atormentadas do que eu. Sim, imagino que não percam tanto tempo encarando a realidade desta vida miserável (em maior ou menor grau de miséria, diga-se) e sofrendo por isso.

ASQUEROSOS

Entretanto, tenho verdadeiro asco, nojo de verdade, de bandidos travestidos de religiosos, sejam rabinos, pastores, padres, xamãs ou o escambau, que utilizam a fragilidade humana e sua busca cega pela ‘salvação’, como fonte de enriquecimento, influência e poder. Tenho engulhos ao assistir um vagabundo extorquir o dinheiro (que já é pouco) de um pobre, prometendo-lhe absolutamente tudo aquilo jamais poderá entregar.

O episódio recente, envolvendo o ex-ministro da Educação, dois ou três ladrões sedizentes pastores e o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, em que verbas públicas eram traficadas em nome de Jesus, com bíblias contendo propaganda eleitoral ilegal, em troca de barras de ouro, é apenas uma faceta do negócio em que se transformaram muitas religiões no Brasil e no mundo.

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Há países e crenças que, em nome do deus e do livro da ocasião, praticam apedrejamento de mulheres, assassinato de homossexuais, atentados terroristas, suicídios coletivos, castração de jovens, estupros infantis e por aí vai. Não raro, há credos que praticamente obrigam, pela força ou pela chantagem emocional, seus fiéis a ‘doarem’, além de parte dos salários, sob a forma de dízimo, bens de alto valor, como carros, jóias e o que houver.

BRASIL

Por aqui, infelizmente, sobretudo entre os evangélicos, uma casta de religiosos de araque usa e abusa da fé sincera dos devotos, e lhes surrupia, além da alma, coitados, os olhos da cara. O neopentecostalismo – se é que existe esse termo – tornou-se um conglomerado poderosíssimo que comanda grande parte da política e da imprensa nacionais. E comanda, também, ataques de ódio nas redes sociais, a partir da ordem de um ‘pastor’.

O Messias que nos desgoverna defende armas, extermínio de povos, agressão a minorias e outras barbaridades jamais admitidas ou defendidas por Jesus Cristo. Ao contrário. As palavras de amor ao próximo e de misericórdia – estudei a vida inteira em colégios católicos; as conheço muito bem – passam quilômetros de distância do devoto da cloroquina e de seus milhões de seguidores que se declaram… cristãos!

O Messias (Jair), assim como o pastor das barras de ouro, ou o deputado que gastou 160 mil reais do dinheiro dos miseráveis brasileiros com seus dentes novinhos (Marco Feliciano), fazem parte dos mercadores da fé, porcos aproveitadores da fragilidade humana, que não tiram Deus da boca e o diabo de seus bolsos sujos. Se eu acreditasse em céu e inferno, rogaria para que estes velhacos encontrassem o merecido destino após a morte.


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