VERONA, 29 MAR (ANSA) – A cidade de Verona, fortaleza da extrema direita na Itália, recebe a partir desta sexta-feira (29) até 31 de março a 13ª edição do Congresso Mundial das Famílias, evento que reúne ultraconservadores de todo o mundo e que provocou um racha no governo por defender a “família natural”. O congresso defende a ideia de família formada apenas por casais heterossexuais e levanta bandeiras contra o aborto, o casamento gay e a adoção de crianças por homossexuais, além de ressaltar o papel da mulher como mãe e procriadora. Entre os temas que também serão debatidos estão o crescimento e declínio demográfico e dignidade e saúde das mulheres, porque ativistas italianos antiaborto frequentemente culpam a taxa de natalidade do país pelo número de abortos, argumentando que, se os italianos tivessem mais filhos, os imigrantes não precisariam ser “importados”.   

A edição deste ano também tem gerado polêmica entre o governo italiano já que a iniciativa é apoiada pelo partido ultranacionalista Liga, do ministro do Interior e vice-premier, Matteo Salvini, enquanto que o também vice-premier Luigi Di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), instou os parlamentares de sua legenda a boicotarem o evento e o classificou como “medieval”.   

“A visão de mundo defendida neste congresso é da Idade Média, que considera as mulheres como uma submissa”, afirmou Di Maio, durante coletiva de imprensa.   

Na última semana, o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, por sua vez, revogou o patrocínio do Conselho dos Ministros ao evento que havia sido concedido de forma unilateral pelo ministro da Família, Lorenzo Fontana, da Liga, o que também causou irritação no M5S. No entanto, o Congresso ainda conta com o apoio do Ministério da Família. Na ocasião, Conte alegou que “o governo se propõe a tutelar a família fundada no casamento, sem que isso possa de algum modo comprometer o reconhecimento jurídico e a plena legitimação das uniões civis e das diversas formas de convivência baseadas em vínculos afetivos”.   

Na Itália, casais homossexuais têm acesso apenas à união civil, e não ao matrimônio. A diferença entre eles é que o último permite a adoção e prevê a “obrigação de fidelidade”. Ou seja, casais gays não podem adotar em solo italiano nem têm obrigação de ser fiéis.   

Protestos contra o Congresso da Família também serão realizados em toda a cidade nos próximos dias. A expectativa é de que 30 mil pessoas compareçam ao ato deste sábado. Uma petição contra a conferência reuniu quase 150 mil assinaturas até agora.   

O apoio da Liga ao evento também foi condenado pelos parlamentares de centro-esquerda do Partido Democrático(PD).   

Segundo a legenda o objetivo do governo deveria ser “mudar radicalmente a cultura” em um país com um dos maiores índices de feminicídio em toda a Europa e que tem sérios problemas com sexismo e homofobia”.   

Os políticos do PD, incluindo o novo líder do partido, Nicola Zingaretti, devem se juntar à marcha de protesto em Verona amanhã.   

Enquanto isso, Salvini deve fazer um discurso no próximo sábado (30). É previsto que outros expoentes da Liga também compareçam ao evento como o governador do Vêneto, Luca Zaia, o prefeito de Verona, Federico Sboarina, e o próprio Fontana.   

A cidade no norte da Itália sempre foi uma cidade fortemente católica, resistente aos direitos LGBT e às mulheres, com grupos de extrema direita influenciando a política local. Em outubro passado, o conselho do município, liderado por Sboarina, um independente de direita, declarou Verona como uma cidade pró-vida e apresentou uma moção para financiar grupos antiaborto.   

“Verona tem sido tradicionalmente um laboratório para a extrema direita e o novo prefeito fez uma série de coisas para tornar a cidade hospitaleira para o congresso”, disse Giulia Siviero, jornalista e porta-voz da aliança feminista “Non Una di Meno”( “Nem uma a menos”, em tradução livre). O Congresso Mundial das Famílias foi realizado pela primeira vez em 1997, na República Tcheca, e desde então já passou por países como Suíça, México, Espanha, Estados Unidos, Hungria e Moldávia.   

(ANSA)