O governo da Nicarágua garantiu nesta terça-feira (22) que as prisões de pré-candidatos presidenciais contrários ao governo de Daniel Ortega, cinco meses antes das eleições, não são “políticas”, mas sim porque os opositores promovem um “golpe de Estado”.

Há 19 opositores detidos no país, incluindo 5 aspirantes à presidência. Segundo o chanceler da Nicarágua, Denis Moncada, todos eles são processados por crimes tipificados na legislação local.

“São crimes relacionados à liderança e direção de golpes de Estado (…), atividades vinculadas ao terrorismo, que comprometem a independência e a soberania do Estado nicaraguense”, disse Moncada em entrevista ao canal Telesur.

Pedem “intervenções militares, exigem sanções contra o Estado e contra nossos cidadãos”, o que a lei considera “traição”, declarou Moncada.

Após uma operação policial iniciada em 2 de junho, foram detidos os pré-candidatos Cristiana Chamorro, Arturo Cruz, Félix Maradiaga, Juan Sebastián Chamorro (primo de Cristiana) e Miguel Mora.

Cristiana é acusada de lavagem de dinheiro por meio da fundação que presidia e que leva o nome de sua mãe, Violeta Barrios de Chamorro.

Os outros foram enquadrados em uma lei aprovada pelo Congresso governista que permite processar quem, segundo julgamento do governo, comete atos que incitem à “ingerência estrangeira”.

“Os que estão sendo processados (…) não são candidatos presidenciais, são dirigentes de organizações não governamentais que recebem financiamento do governo dos Estados Unidos e da União Europeia e o destinam justamente para desestabilizar o país”, afirmou o chanceler.

“Não são por motivos políticos, mas por indícios da prática de crimes claramente especificados nas leis da Nicarágua”, acrescentou.

Nesta terça, o jornalista Carlos Fernando Chamorro, irmão de Cristiana e um diretor de mídias digitais crítico do governo, deixou o país junto com sua esposa para “proteger” sua liberdade.

Ele denunciou que “após a batida policial” em sua casa na segunda-feira, “três veículos com civis a bordo ficaram vigiando” em frente à casa de sua mãe, a ex-presidente, até a manhã desta terça-feira.

A ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro, de 91 anos, está com a saúde debilitada há dois anos, de acordo com sua família.

Ortega, um ex-guerrilheiro que governou de 1979 a 1990, voltou ao poder em 2007 com a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e permanece no cargo após duas reeleições sucessivas. Seus adversários acreditam que ele buscará um quarto mandato nas eleições de 7 de novembro.

Ele foi acusado pela oposição e pela comunidade internacional de governar de forma autoritária, após a repressão brutal às manifestações contra seu governo em 2018, que deixaram mais de 300 mortos e milhares de exilados, segundo organizações de direitos humanos.