Em manifestação esvaziada, Bolsonaro dá primeiros sinais de preocupação para 2026

Ex-presidente critica governo federal e pede ajuda para eleger Congresso no próximo ano

Bolsonaro
Cerca de 14 mil manifestantes estivarem na Paulista Foto: REUTERS/Jean Carniel

Em um dos hotéis mais caros do entorno da Avenida Paulista, bolsonaristas se encontravam à espera do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Entre risadas e comemoração, alguns demonstravam uma preocupação: o futuro político do ex-presidente. 

Em conversas no pé do ouvido, deputados e alguns dos principais aliados de Bolsonaro já admitem: será impossível reverter a prisão dele. A manifestação, muito próxima da última realizada na Paulista, em 6 de abril, tinha objetivo certo de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) e tentar ganhar capital político para fortalecer a cúpula. 

Bolsonaro chegou por volta das 13h no hotel. Cumprimentou apoiadores, tirou fotos e logo puxou o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) para uma conversa rápida e reservada. Em seguida, foi a vez de Silas Malafaia, organizador do evento. Em um diálogo de 15 minutos, Bolsonaro estava cabisbaixo, enquanto Malafaia parecia mais alterado. 

Meia hora depois, a cúpula bolsonarista seguiu em procissão para o trio elétrico, a pouco mais de 100 metros do hotel. Bolsonaro chegou com o discurso pronto, já pensando em 2026, mas encontrou uma Paulista bem menor que nas últimas manifestações. De acordo com o monitor da Universidade de São Paulo (USP), foram 14 mil pessoas na manifestação. 

Depois de ouvir os discursos de deputados, Malafaia e do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente assumiu o microfone para se declarar inocente dos processos em que responde no STF. Jair Bolsonaro é investigado no inquérito da tentativa de golpe de Estado, junto com os principais aliados durante seu governo. 

Em pouco mais de 30 minutos de fala, criticou o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas pediu a ajuda do mesmo para emplacar o PL da Anistia, engavetado na Câmara dos Deputados. Mas, em determinado ponto, apontou a preocupação com o rumo das eleições do próximo ano e pediu ajuda para eleger 50% do Congresso Nacional. 

“[A anistia] é o caminho da pacificação. Esperamos que essa anistia tenha o apoio dos outros dois Poderes “, declarou. 

“Se vocês me derem 50% da Câmara e 50% do Senado, eu mudo o destino do Brasil. Nem preciso ser presidente. Faremos isso por vocês”, concluiu. 

O ex-presidente evitou apontar desânimo com o andamento de seu processo no STF e também ignorou a disputa presidencial em 2026. No carro de som, estavam ao menos dois de seus possíveis sucessores: Tarcísio e Romeu Zema, governador de Minas Gerais. 

Entre os desfalques estavam o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), em casamento de um amigo, e a da primeira-dama Michelle Bolsonaro, que participara de um evento do PL Mulher. A falta abriu caminho para Bolsonaro elevar o nome de Carlos Bolsonaro, seu filho, que deve concorrer ao Senado por Santa Catarina.

Bolsonaristas estudam opções para ex-presidente

Ao menos dois bolsonaristas admitiram à ISTOÉ que o ex-presidente sabe seu destino até o final do ano. A estratégia, agora, é retardar o processo. 

Na avaliação da cúpula, Bolsonaro não deve fugir da condenação e nem da prisão. A ideia é tentar reunir provas para a possibilidade de uma prisão domiciliar. Outra ideia seria apresentar algum projeto que possa retardar processos no STF de investigados com prerrogativa de foro – no caso Alexandre Ramagem (PL-RJ) – que é réu no mesmo inquérito que o ex-presidente.