O hábito de cronista de observar o dia a dia com olhar crítico e divertido, refletido nas crônicas que publica no Caderno 2, inspirou também o mais recente romance publicado por Ignácio de Loyola Brandão, Desta Terra Nada Vai Sobrar, a Não Ser o Vento Que Sopra Sobre Ela (Global Editora).

Lançado em agosto passado, o livro reproduz com argúcia uma vida normalizada na anormalidade. “Assim como Zero (1975), que nasceu do sufoco sob a pressão da ditadura e sua censura, violência, torturas, prisões e guerrilhas, Desta Terra surgiu quando percebi que tudo andava confuso no País”, contou Loyola, na época. “O Brasil se dividiu. Os grupos estão cada vez mais acirrados – os Nós, os Eles, os Aqueles, os Outros. Uma insegurança geral.”

Pois foi a partir desse incômodo que o escritor decidiu abandonar as 200 páginas que já havia escrito sobre uma outra história para abraçar a trama que acompanha a tumultuada relação de Felipe e Clara, jovens que buscam a ordem no caos.

Ambientado em uma época não definida (detalhes futuristas como máquinas que leem pensamentos convivem com objetos que identificam um passado longínquo, como um bonde), o romance retrata um Brasil caótico – 1.080 partidos políticos coexistem, tornando a eleição presidencial um fato mensal, graças à profusão de impeachments. Trata-se de uma ficção político-burocrática, na observação do próprio autor.

“Felipe, o protagonista, foi marqueteiro, mas a palavra não existe mais, trocada por Conselheiro, mas vive um inferno astral, depois que Clara, a mulher que ama, dá-lhe um pé na bunda nas primeiras dez linhas do romance”, conta. “O livro é essa viagem sem sentido, que vai revelando o interior do Brasil. Por sua vez, fugindo da violência de São Paulo, do caos que a cidade se tornou, Clara também se mete em outro ônibus, em busca de sua terra natal.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.