A situação de emergência decretada em Maceió e os alertas para risco de colapso na região do Mutange fizeram com que a prefeitura evacuasse um dos hospitais mais importantes da região na quinta-feira passada, 30 de novembro. Todos os pacientes que estavam internados no Hospital Geral Sanatório foram transferidos, mas, quatro dias depois, pessoas que dependem da unidade de saúde para tratamentos ou exames ainda deram de cara com as portas fechadas e não sabem para onde ir. A Secretaria Municipal de Saúde, no entanto, garante que o sistema do município consegue absorver o fluxo de pacientes.

O pedreiro Félix Silva de Assis foi um que, na manhã desta segunda-feira, 4, encontrou as portas fechadas. “Estou com câncer, um câncer raro. Não posso fazer hemodiálise, nem transplante, eu trato com remédio”, revoltou-se o paciente. O hospital está instalado em uma área considerada de risco, entre os bairros do Pinheiro e Bebedouro.

“Vou ter que comprar o meu remédio para poder tomar em casa. Se acontecesse alguma coisa (reação ao medicamento) dentro do hospital, eu estaria seguro. Mas e se acontecer alguma coisa dentro de casa, quem vai garantir a minha vida?, indagou Félix.

De acordo com a Defesa Civil do município, o colapso de uma mina da petroquímica Braskem pode ocorrer a qualquer momento – até 2019, a empresa fazia a extração de sal-gema em 35 poços abertos na região. Estudos mostraram na última semana o aumento significativo na movimentação do solo na mina, indicando a possibilidade de rompimento e surgimento de um sinkhole, ou seja, uma cratera pode ser aberta na região afetada. Em nota à imprensa na manhã desta segunda-feira, 4, a Braskem afirmou que mantém o monitoramento e o isolamento das áreas mais críticas. Destacou ainda que o ritmo do afundamento da mina diminuiu.

Outros pacientes além de Félix que usam os serviços do Hospital Sanatório também foram ao local em vão. Todos disseram que o atendimento no local costuma ser eficiente, mas nesta segunda-feira estavam indignados com as portas cerradas e a falta de informações.

“Preciso fazer um exame de sangue, e agora vou ter que ir a outro bairro. Vou ter que gastar com transporte para ir pra muito longe. Minha condição financeira é ruim, estou desempregado no momento”, criticou Reginaldo Hilário da Silva, de 60 anos.

A aposentada Sônia Alves, de 62 anos, foi ao Sanatório buscar autorização para a cirurgia do neto, que fraturou o nariz há uma semana. Voltou para casa sem nada. “Eu venho sempre, me operei aqui. Fiquei sabendo agora que fechou”, disse a aposentada. “Ninguém responde o que vai fazer, quando foi, quando não é, nada. Simplesmente vamos esperar o que eles querem fazer. E quem vem do interior? Nem os próprios funcionários estão sabendo o que vai acontecer.”

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Maceió informou que removeu 81 pacientes na quinta-feira. Eles foram levados para a Santa Casa de Misericórdia de Maceió, o Hospital Universitário Dr. Alberto Antunes e ao Hospital Veredas. A pasta ainda garantiu que o sistema de saúde do município consegue absorver esse fluxo de pacientes.

“Pacientes que realizavam hemodiálise no local, cerca de 350 pessoas, também foram realocados em outros quatro serviços da capital”, informou a secretaria. O Estadão questionou a pasta sobre para onde serão encaminhados os pacientes que chegam ao local, mas ainda não houve retorno.

Hospital Sanatório fica em área considerada de risco

A unidade de saúde fica na divisa dos bairros do Pinheiro e Bebedouro, próximos ao Mutange. É naquele local que está instalada a mina 18 da Braskem, que corre risco de colapsar.

Todos esses bairros estão desocupados e com seus imóveis esvaziados. Restaram apenas as paredes na maioria deles. Os acessos foram concretados.

Hoje, quem circula pelo Pinheiro e pelo Bebedouro tem a impressão de estar passando por uma cidade fantasma. A vegetação cresce em meio às casas, e o silêncio só é quebrado pelo barulho eventual de veículos que cortam algumas de suas vias.

No domingo, a Defesa Civil interditou a última igreja batista ainda em atividade no bairro Pinheiro. E, a poucos quilômetros dali, em meio ao desabitado Bebedouro, um cemitério municipal está fechado com cadeado. A equipe de análise da Defesa Civil disse se basear em dados contínuos, incluindo análises sísmicas.

Os problemas na capital alagoana começaram em 3 de março de 2018, quando um tremor de terra causou rachaduras em ruas e casas e o afundamento do solo em cinco bairros: Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e em uma parte do Farol. Mais de 55 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas naquele ano.

Após um período de estabilização, o deslocamento da mina começou a se intensificar nos últimos dias. Na manhã desta segunda-feira, 4, o monitoramento apontava que o deslocamento vertical apresentava ritmo de 0,3 cm a 0,4 cm por hora, o mesmo registrado no dia anterior. Os dados representam uma desaceleração em comparação aos dados de sábado, 2, (0,7 cm/hora), e sexta-feira, 1º, (2,6 cm/hora). Anteriormente, a velocidade chegou a 5 centímetros por hora em fases mais críticas.