Acostumados ao dia a dia de investigações e operações, os delegados federais Jorge Pontes (já fora da corporação) e Márcio Anselmo (responsável pelo início da Lava Jato) resolveram colocar no papel um pouco da experiência angariada na Polícia Federal (PF). O resultado é o livro “Crime.gov: Quando corrupção e governo se misturam”, lançado pela editora Objetiva, e que traça um cenário sobre como o crime organizado contaminou as principais instituições brasileiras.

Anselmo, antes de comandar os primeiros inquéritos da Lava Jato, atuou no caso Banestado, na operação Faktor, que mirou a família Sarney, e, atualmente, é o coordenador-geral de repressão à corrupção e lavagem de dinheiro da PF. Pontes, por sua vez, trabalhou por mais de 30 anos na corporação onde foi responsável por implementar as delegacias especializadas em crimes ambientais. Além disso, atuou em grandes caso como inquérito Cayman, que investigou supostas contas no exterior em nome de integrantes do governo Fernando Henrique Cardoso.

Nas 264 páginas do livro, os dois investigadores se valem do contato que tiveram com o criminosos para cravar que nenhum dos três Poderes está imune a contaminação do crime organizado.

“O fenômeno que estamos caracterizando conta necessariamente com braços nos Três Poderes da República e se consagra quando sua interferência atua em favor do sistema criminoso, seja legislando em prol dos esquemas (no caso do Poder Legislativo), seja julgando de forma benevolente (no caso do Poder Judiciário) os envolvidos que são pegos pela polícia e pelo MP”, afirmam os autores no capítulo específico sobre a institucionalização do crime.

Mesmo o Judiciário, que ainda não foi alvo da Lava Jato, não escapa, na opinião dos autores, aos tentáculos do crime institucionalizado. “Seria muita inocência imaginar que não houve denúncias porque ali não se praticam crimes, como se existisse um Poder puro e imune dentro de uma estrutura tão integralmente corrompida. Se presidentes, senadores e governadores comprovadamente se corromperam, é difícil acreditar que o mesmo não ocorre nos bastidores dos tribunais, formados por indicações desses mesmos políticos”, diz trecho do livro sobre o Judiciário.

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