A Tinta-da-China Brasil lançou recentemente uma nova edição de “Cartas de Amor”, do poeta Fernando Pessoa, com edição e apresentação de Jerónimo Pizarro, o maior especialista nos manuscritos do português.
No livro, Pizzaro revisa datas, atualiza a grafia, situa as cartas na vida e obra de Fernando Pessoa e reúne novas pistas e documentos, como os poemas que integraram o epistolário amoroso, fac-símiles e fotos.
Na publicação, Pessoa se envolve por vezes em intrigas e desconfiança, dá algumas desculpas esfarrapadas — “não foi por culpa minha, mas do meu sono, que faltei à combinação” —, vale-se de diminutivos e, por vezes, até emula uma vozinha de bebê.
A poesia vai se mostrando nas cartas, em figuras de linguagem como a metáfora e a hipérbole, além de repetições e de um ritmo bem trabalhado. Surgem charadas, apelidos carinhosos que Pessoa e Ofélia — sua namorada, que ele conheceu na empresa de sua família, onde ela trabalhava como secretária —, usavam um com o outro e também para partes do corpo.
Ofélia é “íbis”, “nininha”, ou às vezes uma “vespa”, uma “víbora”; seus seios são chamados de “pombinhos”, e os “beijinhos” são “jinhos”. Vemos Pessoa escrevendo para Ofélia com bom humor, mas também mostrando-se hipocondríaco, dramático e um tanto autocentrado, dedicado a um propósito maior (a escrita), subordinado “à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam”. Quando chegamos às cartas de Madge Anderson — uma advogada —, no fim do volume, vemos finalmente uma mulher colocando-o na linha ao chamá-lo de “velho tonto dramático”.
Há ainda uma seção de poemas que apareceram nesse contexto de correspondência, além de fac-símiles, fotos e imagens dos objetos que foram colecionados pelos namorados, como caixas de bombons. O livro também acompanha muitas idas e vindas de comboio, pelas ruas, praças, pelos cafés, largos e cais — uma geografia afetiva de um tempo e um lugar.
“Cartas de Amor”, de Fernando Pessoa
Organização: Jerónimo Pizzaro
Tinda-da-China Brasil
208 págs.
Preço: 74,90