Diagnosticado com covid-19 e em quarentena, o infectologista David Uip afirmou que está sendo difícil ficar isolado “sabendo que o mundo está caindo na sua frente”. Em áudio enviado ao Ministério Público de São Paulo, o chefe do Centro de Contingenciamento do Coronavírus defende o isolamento social para achatar a curva de infecção, diz que auge da doença virá entre abril e maio, mas pede tranquilidade à população.

“Eu estou aqui na minha quarentena, estou enjaulado. É difícil você ficar isolado sabendo que o mundo está caindo na sua frente, mas faz parte da doença e eu tenho de cumprir a minha parte, à semelhança de tantos outros brasileiros que estão isolados”, disse Uip. Segundo o infectologista, está havendo “confusão na mídia” em relação aos dados do Ministério da Saúde. A pasta atualiza números somente de pessoas diagnosticadas com o novo coronavírus, pois no Brasil só é testado quem está em estágio grave da doença – isso acaba deixando de fora quem está com o coronavírus, mas com poucos ou nenhum sintoma. “É um numerador baixo. Diferente do que se você testasse toda a população”, explica. “Se a gente trabalhar com o denominador só de doentes versus mortes, nós vamos ter letalidade muito alta. Agora, se nós trabalharmos com uma população imensa que faz exames e com a letalidade que é a mesma, vamos ter uma letalidade baixa, seguramente abaixo de 1%.”

O infectologista relembra que qualquer um pode ser infectado e qualquer um pode ficar em estado grave. Uip afirma ainda aos promotores que, na sua opinião, o Brasil ainda não chegou ao auge da doença e, quando isso ocorrer, todo o sistema de saúde e o econômico enfrentarão dificuldades. “Isso vai acontecer durante o mês de abril e maio, e teremos grandes dificuldades. Tanto para o sistema público e privado de saúde quanto para o sistema econômico. Não tem muito jeito, nós vamos ter de passar por isso, à semelhança de outros países.”

O médico defendeu o distanciamento social como forma de achatar a curva de ascensão da doença. A medida é recomendada por órgãos de saúde, como a Organização Mundial da Saúde, mas enfrenta resistência no governo federal, que encabeça iniciativa por um isolamento “vertical”, no qual apenas idosos e pessoas do grupo de risco ficam em casa.

Uip destaca que o isolamento serve para minimizar os impactos no serviço de saúde. “Se as pessoas não entenderem que confinamento, neste momento, é importante, nós vamos ter uma subida rápida do pico de doentes e isso vai ter repercussão em todo o sistema.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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